sábado, 14 de março de 2009

Património esquecido e desvalorizado...

Marcos da extinta Comenda de Rossas
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Existem ainda hoje mais de duas dezenas dos Marcos que delimitavam a extinta Comenda de Rossas da Ordem de Malta. Quantidade esta que, por força de empreendimento a que voluntariamente me devotei, me é bastante cara, mas, também me confere o orgulho bastante de ter conseguido, pelo menos, passado meio século sobre as últimas diligências encetadas em torno deste assunto, ter conseguido inventariar os marcos que restam dos 42 levantados na Demarcação de 1630.
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Porém, à excepção do trabalho desenvolvido em 1950 por Dom Domingos de Pinho Brandão e este meu que, de assunto em assunto tarda em dar à estampa (o que não é preocupação primeira), nenhuma outra diligência se conhece, nomeadamente por parte das várias Juntas de Freguesia que, entretanto, prometeram, prometeram, e nada fizeram no sentido de salvaguardar e valorizar este importantes elementos da sua história que, para além do mais, actualmente, e na sua maioria, delimitam a freguesia de Rossas.
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Ao longo dos anos, alguns destes marcos foram retirados dos seus locais de origem e utilizados para os mais diversos fins. Encontramos um encaixado numa parede de suporte, soubemos de outro utilizado para capa de caminho e de um outro que se mostrou apropriado a fazer uma das paredes de um tanque. Três empreitadas que, para além do mais e apesar de estarem identificadas com testemunhos e fotografias, se situam fora dos limites da freguesia de Rossas.
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No cantinho do lugar do Merujal, existe ainda hoje o marco que, até 1834, fez estender a Comenda de Rossas até esse local da Serra da Freita. Entretanto, todo o lugar do Merujal é dado como pertencendo à vizinha freguesia de Urrô e, a ser assim, nenhuma diligência se conhece por parte da Junta de Freguesia de Rossas no sentido de fazer arrancar e deslocar aquele seu elemento para esta freguesia.
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Dos restantes, e à excepção de um que se situa em zona mais movimentada da freguesia e ao qual se acorre quando se quer mostrar um dos marcos de Malta, todos os demais, "perdidos e abandonados pelo monte", se encontram no estado que a erosão, os incêndios, a insensibilidade, desrespeito e atitude deliberada e criminosa do Homem, permitem adivinhar.
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Numa terra tão propensa a Percursos Pedestres, seria uma boa ideia pensar um Percurso pelos limites da freguesia, valorizado pela identificação destes elementos da história de Rossas e das muitas estórias que estes marcos motivaram. E aquele (percurso) com esta (identificação), dois coelhos de uma cajadada só!
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No decorrer de toda a linha divisória foram levantados quarenta e dois marcos e, além disso, abriram-se cinco hábitos de Malta em penedos existentes nos limites. Os marcos, com excepção de, pelo menos, quatro, eram de granito com forma de paralelepípedos e com uma das faces trabalhada. Na parte superior desta face sobressai, duma zona circular cavada, uma cruz de Malta em relevo. Logo abaixo do círculo abriu-se em todos a data 1629. Nos penedos aproveitados como marcos abriu-se apenas o hábito, isto é, cavou-se um círculo deixando a cruz em relevo, e gravou-se por baixo a mesma data.
A face trabalhada dos marcos ficou voltada para as terras da freguesia e a direcção da esquina direita dessa face, indicava o sentido da divisória, segundo a ordem da colocação dos marcos. Dos que sobejam, nem todos estão de acordo com esta orientação.
A mais antiga demarcação de que obtivemos conhecimento, realizou-se em 1630. Os marcos têm gravado a data 1629. Tinham sido preparados nesse ano e com tal data, na ideia de que a demarcação se realizaria em 1629. Foi adiada para 1630. Daí, a divergência da data gravada nos marcos com a data da demarcação.
in "Rossas, Inventário Natural, Patrimonial e Sociológico"

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