domingo, 26 de novembro de 2006

Arouca na primeira metade do século passado

As duas últimas grandes cheias na vila
...

Em Outubro de 1929, dá-se uma inundação de grande impacto no centro da vila, devido ao repentino engrossamento do caudal do Rio Marialva.

O Jornal “Defesa de Arouca” noticiou o acontecimento nos seguintes termos: «A impetuosidade da corrente deslocou…as pesadas pedras, que na Rua Direita, formavam o passeio junto do rio, amolgando e arrastando o gradeamento de ferro que nesse passeio existia.
A ponte que liga as Ruas Direita e da Lavandeira com a Rua d’Arca ficou muito danificada e a que dava passagem da Rua Direita para a Ribeira completamente destruída, como destruído ficou o pontão que existia próximo ao Lagar de Azeite.
».
O Jornal “Gazeta de Arouca” refere que as águas «na sua passagem pela vila derruiram e destruíram 2 pontes e a uma terceira levaram-lhe o pegão central…».
.


Em Maio de 1934, dá-se uma nova inundação de idênticas proporções, levando novamente as pontes e margens do rio, deixando um rasto de destruição e amontoados de lixo, «…uma enorme cheia, causada por uma tromba de água que desabou sobre o Monte da Senhora da Mó e redondezas, provocando grandes prejuízos não só na Vila, como nos campos e construções sitas à margem do rio Arda. Todos os açudes e levadas, existentes nas proximidades da Pedra Má, desapareceram, assim como o Pontão de Eidim, que era de cimento. O moinho que estava rente à Ponte da Costa também teve a mesma sorte.», e a própria Ponte, então de pedra, baixa e estreita, também foi água abaixo.

.


Em 1945 iniciam-se os trabalhos de regularização e encanamento do rio Marialva. Em 1949 dão-se por concluídos os trabalhos de encanamento e cobertura do rio, que atravessa pelo centro da vila.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O primeiro tractor

O primeiro tractor a chegar a Arouca, acompanhado da respectiva charrua, foi adquirido pelo Grémio da Lavoura, no ano de 1947.
Era da marca Ferguson e foi adquirido a uma empresa de Aveiro.
Campo de Milho, nas imediações do Convento

O primeiro semeador

O primeiro semeador a chegar a Arouca foi fornecido, por um construtor do Minho, a Alberto Brandão de Sousa e Vasconcelos, da Casa de Alhavaite, no final dos anos trinta.
O Grémio da Lavoura, fundado em 1942, espalha o novo instrumento por todo o concelho e, doravante, começa a praticar-se a sementeira à linha.

Arouca na primeira metade do século passado

Feira da Colheitas
.


«Corria o ano de 1944 e estávamos em plena guerra mundial – a Segunda Grande Guerra.
O nosso país mantinha-se neutral, mas, apesar disso, e sob múltiplos aspectos, teve de suportar as terríveis consequências do conflito. Dum modo especial, no que se refere ao abastecimento de géneros alimentícios e carburantes, além de muitos outros produtos, Portugal viu-se forçado a sofrer grandes privações e os preços exorbitantes do mercado negro. E a situação manteve-se sempre grave, tanto nos grandes centros como nas próprias aldeias, onde faltava o pão, alimento essencial ao trabalho do campo.
Então, os Grémios da Lavoura e as próprias Câmaras foram chamadas a colaborar na regularização dos abastecimentos, sendo criadas, junto destas, comissões especiais encarregadas de proverem à distribuição de géneros às populações rurais. O milho e os outros cereais panificáveis escasseavam também, mercê dum açambarcamento desenfreado, que por toda a parte se fazia sentir.
Foi considerando esta dramática situação e as funestas consequências dela derivadas, que o Grémio da Lavoura de Arouca resolveu adoptar uma medida altamente simpática, destinada, por um lado, a atenuar a crise, e pelo outro a promover uma benéfica acção de fomento, que se impunha realizar.
Tornava-se imperioso estimular a produção de todos os cereais, sobretudo do milho, que é o de maior consumo na região e, para tanto, o Organismo resolveu realizar diversos concursos, entre os lavradores seus associados, tendo em mira, todos eles, conseguir um aumento substancial das produções.
Adoptada tal medida, que logo teve o apoio e o auxilio financeiro da Câmara e doutras entidades, foi elaborado um plano de acção e estabelecido o respectivo programa, do qual constavam o número e a natureza dos concursos a realizar, montante dos prémios a distribuir, que eram numerosos e de valor elevado, como convinha, sobretudo para a cultura do milho, pois era esta que mais se pretendia estimular.
Os concursos da «Melhor Seara» - de milho, cevada e trigo – da «Melhor Fruta», da «Melhor Adega» e do «Melhor Linho», foram o fundamento justificativo da criação da «Feira das Colheitas», pois assim passou a designar-se o certame, no qual foi integrado também o «Concurso de Raça Bovina Arouquesa», já criado no concelho.(…)»

(in BRANDÃO, António de Almeida, "Memórias de Um Arouquense", Universidade Nova de Lisboa, 2000, pág. 113 ss.)

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Partida da carreira Arouca - Porto

Arouca na primeira metade do século passado

A exploração de volfrâmio em Arouca
.

«Os pequenos lugarejos, que ao longo de séculos ou mesmo milénios foram sustentando gerações sem horizontes nem futuro, transformaram-se a partir de 1939 na terra prometida, que atraía multidões. A guerra, que se alastrou aos quatro cantos do mundo, transformou a região inóspita, que os habitantes consideravam um inferno, num espaço gerador de vinganças e felicidade.
Depressa Rio de Frades, Regoufe, Janarde, Silveiras, Alvarenga e outros lugares de arremessados nomes, perdidos nos confins remotos a nascente do concelho de Arouca, se transformaram em pequenas “cidades”, providas de luz eléctrica, que, na sede do concelho, era privilégio de apenas alguns, e para onde a estrada se dirigia a toda a velocidade, rasgada na rocha, serpenteando a montanha irregular, para rapidamente facilitar o transporte do minério que, enriquecendo alguns, iria contribuir para o maior holocausto que o mundo já conhecera.
Arouca, minério ou volfrâmio significavam uma e a mesma coisa para uma multidão de gente dos concelhos vizinhos que, dia a dia, enchendo camionetas ou táxis, se dirigiam à vila, para daí iniciarem a longa caminhada que os levava ao sítio da fortuna.
Na vila animou-se o comércio, principalmente o fornecedor de alimentos, na razão inversa do racionamento de bens imposto pelo conflito mundial. Alastrava o contrabando. A gente honesta desta região rural, que não vivera a agitação política das lutas liberais e das pequenas sacudidelas da implantanção da República, não conservava memória, não resistia à tentação da riqueza fácil que lhe batia à porta.
Terra de lavradores, num minifúndio que não permitia grandes distinções entre o proprietário e o rendeiro, salvo na mesa mais abastada e na roupa domingueira, ainda no respeito/medo que os bons costumes recomendavam, via-se confrontada nos finais de 1939 com a invasão de gente de toda a espécie, aventureiros quase todos, desprovidos de fortuna e sem nada a perder na vida.
A terra era fonte certa de alimentação para os proprietários e os celeiros o melhor banco. No entanto, para as numerosas famílias que constituíam a grande massa de assalariados agrícolas e rendeiros, “os brasis” estavam agora por trás da montanha, a uns vinte quilómetros de distancia e custavam apenas algumas horas de jornada, sem necessidade dos papeis, que a maioria não sabia escrever, nem da carta de chamada, que quase todos não sabiam ler, que eram exigidos a quem quisesse embarcar para Terras de Santa Cruz.»
in VILAR, António, “O Volfrâmio de Arouca”, Câmara Municipal de Arouca, 1998, pág. 98

sábado, 11 de novembro de 2006

Rua 5 de Outubro

Arouca na primeira metade do século passado

Electrificação do Concelho de Arouca
. .
«Desde há muito tempo que o povo se vinha interessando pelo melhoramento e o Dr. Pinho Brandão, segundo afirmava, tinha já resolvido que se procedesse à elaboração de um projecto para a construção de uma barragem no rio Caima, em Albergaria, com o fim de se obter a energia necessária ao abastecimento do concelho. E afirmava que, do estudo feito, tal era possível, a partir daí.
Mas sucedeu que, pelo Decreto-Lei n.º 26.956, de 28 de Agosto de 1936, foi ampliada, aos concelhos de Felgueiras, Castelo de Paiva, Arouca e Castro Daire, com declaração de utilidade pública, a concessão de energia eléctrica em alta tensão, dada à Empresa Eléctrica Duriense Lda., por Decreto de 9 de Abril de 1931.
(…)
A Câmara não hesitou um instante e logo autorizou o seu presidente a entender-se com a Eléctrica Duriense, no sentido de resolver tudo o que se tornava necessário para a concretização do empreendimento, delegando nele os poderes necessários para representar a Câmara no contrato a efectuar com a referida empresa, para o fornecimento de alta tensão, de harmonia com o já referido Decreto-Lei. O presidente foi autorizado, ainda, a convidar um engenheiro ou um técnico competente para fazer o estudo da rede de distribuição da energia eléctrica, em baixa tensão, na Vila e imediações, assim como nas freguesias de Alvarenga, Burgo, Santa Eulália, Urro, Várzea e Rossas, incluindo a localização e o modelo dos postos de transformação a construir naquela área, que a Câmara se propôs electrificar de imediato.
(…)
Em Fevereiro de 1937, foi assinado o contrato para o fornecimento de energia entre a Câmara e a Eléctrica Duriense, Lda., assinado pela Câmara, pelo seu presidente Reinaldo de Noronha, e pela Eléctrica Duriense o Eng.º Mário Guimarães, estando presente o consultor técnico da Câmara, Eng.º Gouveia Neves.
(…)
E todos os trabalhos foram tão bem organizados e correram com rapidez, que foi possível proceder à inauguração da energia eléctrica em 27 de Março de 1938, o qual foi um dia grande para Arouca e pode considerar-se uma data verdadeiramente notável, o inicio de uma era nova, de mais progresso e desenvolvimento para o concelho. Uma data histórica, sem dúvida!»
(in BRANDÃO, António de Almeida, "Memórias de Um Arouquense", Universidade Nova de Lisboa, 2000, pág. 37 ss.)

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Praça Brandão de Vasconcelos

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Convento

Arouca na primeira metade do século passado

Quando falamos na primeira metade do século XX, depressa nos vem à memória os dois acontecimentos que mais a marcaram: as duas Grandes Guerras Mundiais. E, sendo certo que esta não é a sede para abordar esse assunto, não poderemos deixar de fazer uma abordagem aos reflexos que as mesmas (mormente a segunda) tiveram no concelho de Arouca. Foram vários e significativos.
O deflagrar da segunda contenda mundial para além dos prejuízos vários que ia somando, fazia submergir «numerosas embarcações carregadas de géneros alimentícios e outros produtos necessários ao abastecimento do povo português, dependente do estrangeiro.»
Como está fácil de ver, tais factos levaram a que tais géneros e produtos escasseassem, «ao ponto do Governo decretar o seu rateio para toda a gente e a distribuição dos mesmos passou a ser feita em condições bem precárias.»
«Às câmaras municipais, foi confiado tal encargo, bem ingrato por sinal, visto, em alguns casos, pouco ou nada haver para distribuir, na data destinada. Tudo faltava, incluindo milho, o qual, neste meio, costumava chegar para ocorrer às necessidades, mas que um descarado açambarcamento fazia escassear como qualquer outro produto.
Este sistema de abastecimento (que não o era, afinal) causava muitas dores de cabeça aos presidentes das câmaras, e não só a eles como aos próprios vogais. E não eram somente os cereais e os géneros alimentícios, próprios das mercearias, que escasseavam por forma tal que, por vezes, faltava totalmente, mas muitos outros, como produtos para a lavoura (adubos, sementes, insecticidas e fungicidas) os quais também eram rateados como os primeiros.
Até o tabaco desapareceu totalmente, em certas ocasiões, tentando os fumadores «matar» o vício usando folha de videira
seca e ralada, e coisas semelhantes.
A distribuição e rateio de produtos encontravam-se organizados através de uma comissão reguladora, anexa à Câmara e orientada por esta, a qual dispunha de uma delegação em cada freguesia, da qual faziam parte os párocos, presidentes da junta e regedores. É de salientar que os Reverendos párocos prestaram relevantes serviços nesta emergência. Nenhum se recusou.» (in BRANDÃO, António de Almeida, "Memórias de Um Arouquense", Universidade Nova de Lisboa, 2000, pág. 28 ss.)

domingo, 5 de novembro de 2006

sábado, 4 de novembro de 2006

Convento de Arouca
(lado nascente)

Convento de Arouca
(lado poente)