segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Arouca na primeira metade do século passado

Quando falamos na primeira metade do século XX, depressa nos vem à memória os dois acontecimentos que mais a marcaram: as duas Grandes Guerras Mundiais. E, sendo certo que esta não é a sede para abordar esse assunto, não poderemos deixar de fazer uma abordagem aos reflexos que as mesmas (mormente a segunda) tiveram no concelho de Arouca. Foram vários e significativos.
O deflagrar da segunda contenda mundial para além dos prejuízos vários que ia somando, fazia submergir «numerosas embarcações carregadas de géneros alimentícios e outros produtos necessários ao abastecimento do povo português, dependente do estrangeiro.»
Como está fácil de ver, tais factos levaram a que tais géneros e produtos escasseassem, «ao ponto do Governo decretar o seu rateio para toda a gente e a distribuição dos mesmos passou a ser feita em condições bem precárias.»
«Às câmaras municipais, foi confiado tal encargo, bem ingrato por sinal, visto, em alguns casos, pouco ou nada haver para distribuir, na data destinada. Tudo faltava, incluindo milho, o qual, neste meio, costumava chegar para ocorrer às necessidades, mas que um descarado açambarcamento fazia escassear como qualquer outro produto.
Este sistema de abastecimento (que não o era, afinal) causava muitas dores de cabeça aos presidentes das câmaras, e não só a eles como aos próprios vogais. E não eram somente os cereais e os géneros alimentícios, próprios das mercearias, que escasseavam por forma tal que, por vezes, faltava totalmente, mas muitos outros, como produtos para a lavoura (adubos, sementes, insecticidas e fungicidas) os quais também eram rateados como os primeiros.
Até o tabaco desapareceu totalmente, em certas ocasiões, tentando os fumadores «matar» o vício usando folha de videira
seca e ralada, e coisas semelhantes.
A distribuição e rateio de produtos encontravam-se organizados através de uma comissão reguladora, anexa à Câmara e orientada por esta, a qual dispunha de uma delegação em cada freguesia, da qual faziam parte os párocos, presidentes da junta e regedores. É de salientar que os Reverendos párocos prestaram relevantes serviços nesta emergência. Nenhum se recusou.» (in BRANDÃO, António de Almeida, "Memórias de Um Arouquense", Universidade Nova de Lisboa, 2000, pág. 28 ss.)

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