terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sobre as coisas do Estado e o estado das coisas...

Pelo andar da carruagem, não tarda, será preciso tomar de assalto todos os organismos e instituições públicas deste país, chamar a contas as pessoas que por lá se governam, dar-lhes uns valentes açoites e expulsá-las para uma colónia de férias onde não possam voltar a tocar na coisa pública. Porque, por mais que me esforce, já não consigo pensar num organismo ou entidade sobre os quais não recaiam fortes e fundadas suspeitas de gestão danosa. Porque é demasiado fastidioso ir por aqui, se alguém conhecer alguma entidade e/ou organismo sobre o qual não recaia a mínima suspeita, agradeço me informe.
Notório, notório, é que a maior parte desta gentinha fez escola nos partidos saídos de Abril. Principalmente, naquele em que militei durante dez anos, e à medida que mais ia conhecendo, mais me ia decepcionando. Quais líderes, quais Homens, quais exemplos, quais princípios, quais ideologias, qual quê!? Esta Velha Democracia, de facto, mais parece uma prateleira podre de maças podres!

«Aproxima-te um pouco de nós, e vê. O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos já não se crê na honestidade dos homens públicos...»

Eça de Queirós, na primeira crónica de "As Farpas". Junho de 1871.

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