sábado, 15 de novembro de 2008

Ainda sobre o recente acordo de delimitação de Arouca com Vale de Cambra...

... e sobre a eventualidade de se ter feito alguma luz sobre os rigorosos limites da freguesia de Rossas com a freguesia de Urrô e destas com o concelho vizinho.
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O Auto de Demarcação de 1630 da então Comenda de Rossas da Ordem de Malta, que se pode ler em "Rossas de Arouca - Os Limites da Freguesia" dado à estampa em 1963, por D. Domingos de Pinho Brandão, na parte que aqui nos importa, reza da seguinte forma:
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«... q dahy corre a outro penedo q está à fonte de Nossa Senhora da Lagem para a banda do nascente, no oiteiro onde se pos no dito penedo outro habito, & dahy demarca com hu marco que se levantou onde chamam a ladeira do Merujal defronte da porta traveça de Nossa Senhora da Lagem, & dahy vay a outro marco que se levantou onde chamam a lapa da velha, & da lapa da velha a outro marco que se levantou onde chamam cabo do merujal, correndo sempre esta demarcação contra o sul, & ficando os hábitos contra o norte, & poente, & no dito marco que está ao cabo do merujal, torna, & vira a dita demarcaçam contra o poente, & norte, pella estrada real que vem de Viseu, & outras partes para o Porto, na borda da qual, onde chamam o campo da ponte do merujal, se levantou outro marco, & outro onde chamam a portela do omezio, & outro na borda da estrada, onde chamam o cham da porta de quintella, seguindo sempre a dita estrada para o Porto, ficando sempre com as costas para a estrada velha, & os habitos para o nascente, & norte, que he a terra da comenda, & do dito marco, que está no cham da porta vira a dita demarcaçam contra o norte, deixando a dita estrada, & vay ter ao penedo do coto dos pardieiros, no qual se abrio hum habito de S. João de Malta, do qual penendo vem aguas vertentes onde chamam vale da fonte, onde se levantou outro marco do qual vay ao canto do Ribeiro da fervença junto à estrada de quintella, & da deveza...»
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Sobre os mesmos limites, a localização dos marcos da Comenda de Rossas, no Auto da Demarcação de 1656, era a seguinte:
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«... e junto a fonte de Nossa Senhora da Lagem, de fronte da dita fonte, esta en hua pedra aberto o dito abito de Malta (n.º34), e estava marquo (n.º35), aonde chamão a Ladeira do Merujal, e estava outro marquo (n.º36) aonde chamão a Lapa da Velha, e outro (n.º37) ao cabo do Marujal, e estava outro marquo (n.º38) aonde chamão o Campo da Ponte do Marujal, e aonde chamão a Portella do Amezio estava outro marquo derubado (n.º39), que elle Juis mandou repor e levantar no mesmo lugar, e na Comieira de sobre os Pardieiros achou ele Juis outro marquo derubado (n.º40), que também mandou repor e levantar no mesmo lugar, e estava outro marquo (n.º41) aonde chamão Chão da Porta de Quintella, e no penedo do Coto dos Pardieiros estava aberto outro habito de Malta (n.º42), e estava outro marquo (n.º43) aonde chamão o Vale da Fonte, e ao pé do Monte das Vaqueiras, junto ao ribeiro, estava outro marquo (n.º44)...»
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Já em meados do século passado, nas procuras encetadas pelo próprio D. Domingos de Pinho Brandão, aquele mesmo cenário delimita-se da seguinte forma:
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«... 34º Encontrado. Está no penedo, à esquerda quem sobe. (...). 35º Informou o Sr. Joaquim Campas, do Merujal, que ainda no dia 3 de Maio de 1950 se encontrava no local. Foi depois partido, não sabemos com que intenções. No dia 8 de Setembro de 1950, informou o mesmo Sr. Campas que o marco tinha sido retirado do local, haveria uns dois anos, e que fora metido numa parede que, havia pouco, se construíra. Examinda a parede, na companhia do Sr. Campas, não encontraram o marco. Certamente, com receio de consequências desagradáveis, fizeram-no desaparecer. O local chamava-se então Lapa da Velha. 37º Encontrado - Granito (...). É importantíssimo este marco. Rossas prolonga-se até ao Merujal. 38º Não encontrado. Ainda hoje o local se designa Campo da Ponte do Merujal. 39º Não encontrado. Na data o local era designado Portela do Omezinho. Na demarcação de 1656 foi encontrado derrubado. Foi reposto no lugar. 40º Não encontrado. Na demarcação de 1656 estava derrubado. Foi então reposto no mesmo sítio. 41º Não encontrado. 42º Não encontrado o penedo com o hábito esculpido. 43º Informaram que o marco foi retirado do sítio e levado para Quintela...»
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Em 2003, a propósito de "Rossas - Inventário Natural, Patrimonial e Sociológico", eu próprio me fiz ao terreno, observei e relatei o seguinte:
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«(...) Nesta mesma altura, registamos ainda o hábito esculpido num penedo ao chegar à Senhora da Lage, na Serra da Freita, do lado esquerdo quem sobre, junto à fonte que aí existia.
(...)
Já em Março de 2004, fomos ao lugar do Merujal (hoje tido como pertencente à freguesia de Urrô), e uma vez aí chegados, dirigimo-nos ao café "Serrana da Freita", por saber que aí se encontrava o senhor Campas, que adivinhávamos nos pudesse dar alguma dica sobre o sítio onde terá sido tirada uma foto, corria o ano de 1950, por Dom Domingos, a um tal de senhor Campas junto de um dos almejados marcos. Fomos atenciosamente bem recebidos e acompanhados a esse lugar pelo, imagine-se, neto do senhor Campas que, aquando da procura motivada por Dom Domingos de Pinho Brandão, colaborou na mesma. O senhor Campas (neto) pediu a uma senhora que nos permitisse a entrada na sua propriedade, e aí encontramos o importantíssimo marco nº37 (que faz prolongar a freguesia de Rossas, em bico, até ao canto daquele lugar). Rapidamente se juntaram algumas pessoas do lugar, que prosaram connosco algumas das suas memórias relacionadas com o marco, a procura do Bispo de Rossas e os diferendos da Senhora da Lage. Assunto que desenvolveremos no ponto seguinte.
(...)
Seguimos então, pelo caminho que atravessa pelo meio dos campos, do fundo do lugar de Quintela (Chave) para a Devesa (Rossas) e já perto do Ribeiro, aonde originalmente terá sido colocado, encontramos o referido marco (nº44), numa parede suporte do lado esquerdo do caminho, junto de um palheiro que aí existe do lado direito. Foi para aí trazido aquando da construção da parede suporte do Campo do Boco, de Manuel Francisco de Almeida.
Estávamos ainda nesse local, quando fomos abordados pelo senhor José Neves, também do lugar de Quintela. Durante cerca de meia hora, aí no bordo do caminho junto a um rego de água e enquanto a enxada descansava, o homem prosou connosco algumas das memórias que lhe transmitiram sobre essa pedra. Em remate de conversa deixou a promessa de procurar saber da existência do marco nº43.
(...)»

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