quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Mula da Rainha Santa povoa o imaginário popular

O Mosteiro de Arouca tem uma importância muito grande para o concelho, já que a ele está ligado um passado rico em história. A mula da Rainha Santa é uma das lendas que povoa as imaginações populares.
Segundo a lenda, a Rainha Santa a que se refere esta lenda é D. Mafalda, a filha preferida de D. Sancho I e a irmã favorita de D. Afonso II. A jovem princesa era bela, perfeita e, como poucas, senhora de uma esmerada educação. Naquele tempo, subiu ao trono de Castela D. Henrique, uma criança de doze anos apenas, facilmente manobrada pelo seu tutor, que queria governar através do jovem rei. Querendo-lhe dar como esposa uma mulher que o dominasse quando fosse adulto, escolheu D. Mafalda e o casamento celebrou-se.
D. Berengária, a mãe de D. Henrique, invocou ao Papa a consanguinidade dos jovens e o divórcio teve lugar antes da súbita morte do rei aos 14 anos. D. Mafalda regressou a Portugal virgem e assim se manteve até ao fim da sua vida, passando desde então a ser tratada por «rainha». Viveu os últimos anos da sua vida no Mosteiro de Arouca.
Morreu aos 90 anos durante uma cobrança de foros e rendas em Rio Tinto, cujos habitantes queriam que D. Mafalda fosse sepultada nessa mesma terra. Mas em Arouca discordavam, porque era no Mosteiro que ela vivia e na sua igreja deveria repousar o seu corpo para sempre.
Estava a discórdia instalada quando alguém se lembrou de dizer que se pusesse o caixão em cima da mula em que a Infanta costuma viajar e para onde o animal se dirigisse seria o local onde seria sepultada. A mula não teve dúvidas e, quando chegou à igreja do Mosteiro de Arouca, acercou-se do altar de S. Pedro e aí morreu.
O sepulcro de D. Mafalda foi duas vezes aberto no século XVII e tanto o seu corpo como as suas vestes estavam incorruptos. Em 1793, Pio VI confirmou o culto com o título de beata.
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Esta é uma das muitas teses que se vão procurando sustentar relativamente às circunstâncias e local do padecimento de D. Mafalda, assim como do alegado transporte do seu corpo até junto do altar de S. Pedro no Convento de Arouca. De resto, nela se alimenta a lenda.
Contudo, e desde logo, saltam à vista pequenos detalhes de frágil sustentabilidade. Mas, não sendo este o momento nem o lugar para disso dar conta, refiro-me apenas àqueles alegados 90 anos com que terá morrido. De resto, ainda recentemente, responsáveis da Real Irmandade Rainha Santa Mafalda, alinharam por esta mesma tese. Neste momento, não quero sustentar que assim não é. Contudo, sou da opinião que quem sustenta esta tese, não o deverá fazer em contradição. Ou seja, entre as mais alegadas (e até sustentadas) datas de nascimento (1195) e falecimento (1256) de D. Mafalda, apenas medeiam 61 anos.
Mas, sobre a data destes factos, assim como do local e circunstâncias da morte de D. Mafalda, voltarei a falar em Maio, altura em que, alegadamente, se cumprem 750 anos sobre a sua morte.

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