domingo, 12 de fevereiro de 2006

As freiras vindas da Casa da Trofa

À passagem do 390º Aniversário do falecimento de Duarte Lemos (f.11.II.1616), 5º senhor da Trofa, não queria deixar de partilhar a nossa proximidade com destino de oito das descendentes do Senhorio da Trofa. Mas, antes de disso, duas ou três notas relativas à Casa da Trofa.

A Trofa é hoje uma freguesia do concelho de Águeda, no distrito de Aveiro. Fora já uma vila antiquíssima, com povoados a remontar ao tempo das invasões romanas. Contudo, esse estatuto haveria de se perder para uma vila vizinha, até que Dom Afonso V lhe devolveu a secular categoria de vila e imediatamente a deu em senhorio. Dom Manuel deu-lhe foral novo a 20 de Março de 1517. Este senhorio incluía ainda a terra de Álvaro no termo de Oleiros, a vila de Pampilhosa da Serra, a terra de Jales e a vila de Alfarela.

«Um alvará de D. Afonso V de 26.11.1456 manda que Câmara de Álvaro reconheça Gomes Martins de Lemos, como senhor da terra de Álvaro. E, por carta passada em Coimbra a 16.8.1472, Gomes Martins de Lemos é confirmado como senhor de juro e herdade da terra de Álvaro, com suas jurisdições.»

Pese embora, muito mais houvesse a referir, para o que aqui nos interessa resta dizer que a Casa da Trofa inicia-se no século XV, por mercê de Dom Afonso V de 1449, e diz a tradição genealógica que descende por varonia dos medievais senhores de Lemos, na Galiza.

«Sofreu um violento incêndio em meados do século XIX - já os senhores da Trofa viviam ora no seu palácio da Graça, em Lisboa, ora na sua casa no Porto -, que a destruiu quase por completo, ficando uma ruína que, com o passar dos anos, desapareceu totalmente. Sabe-se, no entanto, que se situava em ângulo recto à direita da igreja, que felizmente se salvou do incêndio.»

«A igreja da Trofa, tal como hoje se apresenta, deve assim ter sido construída nesta época, aproveitando para capela-mor a velha capela ou pequena igreja dos senhores da Trofa, que no mínimo era anterior a 1449 e onde Duarte de Lemos tinha, em 1534, mandado erguer o panteão da família, precioso documento da arte tumular portuguesa, classificado como monumento nacional. Uma análise cuidada à forma como este panteão se integra na capela-mor, revela claramente a adaptação feita em 1534. De resto, na estrutura anterior deveriam existir os túmulos dos 1º e 2º senhores da Trofa e respectivas mulheres, que Duarte de Lemos então trasladou para as novas sepulturas que mandou fazer. Deste conjunto ressalta o túmulo do próprio Duarte de Lemos, 3º senhor da Trofa, representado em estátua orante de tamanho natural, atribuída a Nicolau Chanterene ou a Udarte, que Virgílio Correia considera «uma das obras mais belas e viris da nossa galeria de retratos plásticos».»

Foram 10 os Senhores da Casa da Trofa, notável a sua ascendência e vasta a sua descendência. E é aqui, na sua descendência, que se encontra o facto que quero partilhar.

O 1º Senhor da Trofa teve sete filhos, dos quais, quatro, eram raparigas. Contudo, quase todas e à excepção de D. Mécia de Lemos, dama da rainha Dona Joana de Castela, que foi violada pelo cardeal de Castela D. Pedro Gonçalves de Mendoça, conseguiram bons casamentos.

O 2º Senhor da Trofa teve sete filhos, dos quais apenas uma rapariga, D. Filipa de Lemos, que casou com Luís Mascarenhas, comendador de Garvão na Ordem de Santiago.

O 3º Senhor da Trofa teve pelos menos, seis filhos, dos quais duas raparigas: D. Grimaneza de Mello, abadessa de Arouca e D. Filipa e outras, freiras em Stª Clara de Coimbra.

O 4º Senhor da Trofa teve seis filhos, dos quais apenas uma rapariga, que também conseguiu um bom casamento: D. Joana de Távora, que casou com D. Pedro de Lima, morgado de Niza, no termo de Grândola.

O 5º Senhor da Trofa teve doze filhos, dos quais sete foram raparigas: D. Maria de Távora, que faleceu solteira, D. Madalena, D. Mafalda e D. Catarina da Silva, D. Bernarda de Távora, D. Paula de Azevedo, D. Luiza de Mello, todas estas freiras no Convento de Arouca.

O 6º Senhor da Trofa teve cinco filhos, dos quais três raparigas: duas lá se conseguiram encaminhar, mas a terceira, D. Luiza de Távora, acabaria abadessa no Convento de Arouca. A segunda mulher de Diogo Gomes Lemos (6º Senhor da Trofa) era filha de Catarina Borges de Castro, que por sua vez, era filha de André Vieira, fidalgo morador em Castro Daire (Viseu), e de sua 1ª mulher Isabel Borges de Castro, filha esta de Pedro da Costa e de sua mulher Constância Borges de Castro. André Vieira era filho de Braz Vieira, fidalgo da Casa Real que esteve em Arzila, dos Vieiras do Porto, e de sua mulher Catarina de Almeida, natural de Vila Nova (Arouca) e falecida a 21.7.1575 em Castro Daire, meia-irmã de Álvaro Monteiro, fidalgo da Casa Real e de Cota de Armas (1543), cidadão e tabelião do Porto (1571), escrivão da Câmara (1576), etc., senhor da casa da Quintela, em Vila Nova (Arouca).

E daqui não precisamos passar para concluir, de resto, na esteira daquilo que a Doutora Maria Helena Cruz Coelho vem ensinando, e um seu discípulo já fez dar à estampa um trabalho sob o nome “Quando a Nobreza Traja de Branco”, de que, efectivamente, a Nobreza trajava de branco. Logo à nascença, já as meninas tinham o seu destino traçado. Dele, apenas as livrava os bons casamentos.

Este, é apenas um exemplo. De muitos outros lados e famílias terão vindo as meninas que no Convento de Arouca albergaram o hábito branco e preto. Contudo, não deixa de ser mais um bom elemento para a história de Arouca e do seu Convento. Donde se salienta, para além doutra luz que se faz em relação aos sobrenomes Mello e Távora por estas nossas bandas, aquele facto de um só Senhor, o quinto, ter dado seis das suas filhas à magna casa religiosa de Arouca.

Bibliografia - A Casa da Trofa

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