A Trofa é hoje uma freguesia do concelho de Águeda, no distrito de Aveiro. Fora já uma vila antiquíssima, com povoados a remontar ao tempo das invasões romanas. Contudo, esse estatuto haveria de se perder para uma vila vizinha, até que Dom Afonso V lhe devolveu a secular categoria de vila e imediatamente a deu
«Um alvará de D. Afonso V de 26.11.1456 manda que Câmara de Álvaro reconheça Gomes Martins de Lemos, como senhor da terra de Álvaro. E, por carta passada em Coimbra a 16.8.1472, Gomes Martins de Lemos é confirmado como senhor de juro e herdade da terra de Álvaro, com suas jurisdições.»
Pese embora, muito mais houvesse a referir, para o que aqui nos interessa resta dizer que a Casa da Trofa inicia-se no século XV, por mercê de Dom Afonso V de 1449, e diz a tradição genealógica que descende por varonia dos medievais senhores de Lemos, na Galiza.
«Sofreu um violento incêndio em meados do século XIX - já os senhores da Trofa viviam ora no seu palácio da Graça, em Lisboa, ora na sua casa no Porto -, que a destruiu quase por completo, ficando uma ruína que, com o passar dos anos, desapareceu totalmente. Sabe-se, no entanto, que se situava em ângulo recto à direita da igreja, que felizmente se salvou do incêndio.»
«A igreja da Trofa, tal como hoje se apresenta, deve assim ter sido construída nesta época, aproveitando para capela-mor a velha capela ou pequena igreja dos senhores da Trofa, que no mínimo era anterior a 1449 e onde Duarte de Lemos tinha, em 1534, mandado erguer o panteão da família, precioso documento da arte tumular portuguesa, classificado como monumento nacional. Uma análise cuidada à forma como este panteão se integra na capela-mor, revela claramente a adaptação feita em 1534. De resto, na estrutura anterior deveriam existir os túmulos dos 1º e 2º senhores da Trofa e respectivas mulheres, que Duarte de Lemos então trasladou para as novas sepulturas que mandou fazer. Deste conjunto ressalta o túmulo do próprio Duarte de Lemos, 3º senhor da Trofa, representado em estátua orante de tamanho natural, atribuída a Nicolau Chanterene ou a Udarte, que Virgílio Correia considera «uma das obras mais belas e viris da nossa galeria de retratos plásticos».»
Foram 10 os Senhores da Casa da Trofa, notável a sua ascendência e vasta a sua descendência. E é aqui, na sua descendência, que se encontra o facto que quero partilhar.
O 1º Senhor da Trofa teve sete filhos, dos quais, quatro, eram raparigas. Contudo, quase todas e à excepção de D. Mécia de Lemos, dama da rainha Dona Joana de Castela, que foi violada pelo cardeal de Castela D. Pedro Gonçalves de Mendoça, conseguiram bons casamentos.
O 2º Senhor da Trofa teve sete filhos, dos quais apenas uma rapariga, D. Filipa de Lemos, que casou com Luís Mascarenhas, comendador de Garvão na Ordem de Santiago.
O 3º Senhor da Trofa teve pelos menos, seis filhos, dos quais duas raparigas: D. Grimaneza de Mello, abadessa de Arouca e D. Filipa e outras, freiras em Stª Clara de Coimbra.
O 4º Senhor da Trofa teve seis filhos, dos quais apenas uma rapariga, que também conseguiu um bom casamento: D. Joana de Távora, que casou com D. Pedro de Lima, morgado de Niza, no termo de Grândola.
O 5º Senhor da Trofa teve doze filhos, dos quais sete foram raparigas: D. Maria de Távora, que faleceu solteira, D. Madalena, D. Mafalda e D. Catarina da Silva, D. Bernarda de Távora, D. Paula de Azevedo, D. Luiza de Mello, todas estas freiras no Convento de Arouca.
O 6º Senhor da Trofa teve cinco filhos, dos quais três raparigas: duas lá se conseguiram encaminhar, mas a terceira, D. Luiza de Távora, acabaria abadessa no Convento de Arouca. A segunda mulher de Diogo Gomes Lemos (6º Senhor da Trofa) era filha de Catarina Borges de Castro, que por sua vez, era filha de André Vieira, fidalgo morador
E daqui não precisamos passar para concluir, de resto, na esteira daquilo que a Doutora Maria Helena Cruz Coelho vem ensinando, e um seu discípulo já fez dar à estampa um trabalho sob o nome “Quando a Nobreza Traja de Branco”, de que, efectivamente, a Nobreza trajava de branco. Logo à nascença, já as meninas tinham o seu destino traçado. Dele, apenas as livrava os bons casamentos.
Este, é apenas um exemplo. De muitos outros lados e famílias terão vindo as meninas que no Convento de Arouca albergaram o hábito branco e preto. Contudo, não deixa de ser mais um bom elemento para a história de Arouca e do seu Convento. Donde se salienta, para além doutra luz que se faz em relação aos sobrenomes Mello e Távora por estas nossas bandas, aquele facto de um só Senhor, o quinto, ter dado seis das suas filhas à magna casa religiosa de Arouca.
Bibliografia - “ A Casa da Trofa”
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