sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA DE AROUCA - IV

Não há fartura que sempre dure...
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Na primeira metade do século XX, por alturas da Segunda Grande Guerra, viveram-se em Arouca anos de intenso trabalho para aqueles que nas minas do volfrâmio encontraram o sustento, mas, também, anos de grande fartura para aqueles que do “ouro negro” se souberam aproveitar.
Rio de Frades, Regoufe e Alvarenga, foram nos anos da grande e humana catástrofe mundial, locais de aproveitamento e riqueza pessoal. Aí se encontravam a jazidas de alimento para a guerra, mas, também, para centenas de pessoas que de Arouca e concelhos vizinhos para aí se deslocaram à procura do pão de cada dia, e, já agora, se fosse possível um pouco mais que isso…
Todas as pequenas profissões foram deitadas ao abandono e, de uma maneira geral, toda a gente subiu serra acima à procura do cobiçado minério.
Mais rentável e proveitoso que a exploração e venda às Companhias, viria a revelar-se o contrabando por um lado, e as sociedades particulares por outro. Contanto, eram mais os desonestos que os honestos, pelo que, muitos foram os “comidos” com «potreia» e «fritangada» em vez do almejado volfrâmio.
Apesar disso, havia muita gente séria. Mas, era uma atitude bastante ingrata e pouco rentável. E, depois, “roubar” a quem tantas vidas estava a tirar por essa Europa fora, revelava-se o menor dos males.
Na altura não havia GNR em Arouca e, por isso, apesar de haverem funções policiais delegadas nos administradores do concelho, o contrabando tornava-se mais fácil.
Por outro lado, as celas improvisadas numa das dependências do Convento não chegavam para as encomendas. E, em pouco tempo, de nada valia: já se sabia que era apenas para amedrontar.
Assim, dadas as circunstâncias, muita fortuna fácil se conseguiu e, muitas das grandes propriedades, que hoje vemos no vale, se empararam e engrandeceram à custa do volfrâmio que ingleses e alemães buscavam por estas bandas.
Nessa altura, o dinheiro em Arouca chegava para tudo. Não havia família que não beneficiasse dos bons ventos, nem pessoa que andasse de bolsos vazios. Pelo que, para alguns, acender um cigarro com uma nota de cem escudos ou, mesmo, fumar uma ou outra feita em quatro, assumiam-se como pequenas extravagâncias. Alugar um TAXI e ir ao Porto “num instante” tomar café, ou levar duas sacas de fatias de Pão-de-ló e ficar por lá até ao amanhecer, em doce farra com o “mulherio” tornou-se um irremediável hábito d’alguns que por tanto e de forma tão fácil ganhar, pouco se importavam de por forma fácil tudo gastar.
Na cidade do Porto, já não havia comerciante que não tirasse a pinta a um qualquer endinheirado do volfrâmio. Também esses se safavam. Já sabiam que aqueles só procuravam o mais caro e, depressa o mais barato passava a mais caro para lhes vender. Quantos analfabetos ostentavam canetas caras nos bolsos da camisa…
No entanto, com o fim da Guerra abrandou a “febre” e, em pouco tempo a fartura havia de dar em miséria para aqueles que nenhuma contenção tiveram. Contudo, como diz o ditado: em terra de cegos, quem tem olho é rei, safaram-se os senhores que criaram as pequenas Sociedades.

Baseado nas entrevistas, in “O Volfrâmio de Arouca (No contexto da Segunda Guerra Mundial 1939-1945)” de António Vilar. Arouca 1998. pág.213 ss.
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Próxima: "Bernardo, o fugitivo da Casa do Outeiro"

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