quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A propósito da nova Biografia de Egas Moniz

Esta é a primeira biografia de uma das mais fascinantes personalidades médicas do século XX, a quem se devem duas contribuições científicas fundamentais: a angiografia, uma técnica que permite a visualização dos vasos cerebrais, e a psicocirurgia, o primeiro tratamento cirúrgico de certas doenças psiquiátricas, agora ressuscitada em consequência de progressos tecnológicos recentes.
António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz nasceu em 1874 em Avanca e formou-se na Universidade de Coimbra. A sua tese sobre “A vida Sexual”tornou-se num “best-seller”. Em 1911 transferiu-se para a Universidade de Lisboa como Professor de Neurologia. Até 1919 foi um político activo, chegando a Ministro de Negócios Estrangeiros no governo de Sidónio Pais, e chefiando a delegação portuguesa à Conferência de Versalhes no final da Grande Guerra.
Esta é uma narrativa que o autor pretendeu que fosse objectiva e crítica, e para a qual dispôs de numerosos documentos e cartas inéditos e do testemunho de colaboradores e familiares de Egas Moniz. Irá certamente contribuir para o melhor conhecimento de um português que para muitos permanece ainda uma figura obscura, que foi um político, um diplomata, um homem das letras e do mundo, um clínico de sucesso e um cientista improvável.
Gradiva
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O meu primeiro contacto com Egas Moniz deu-se com a necessidade de saber um pouco mais sobre essa ilustre figura que teve Casa de Férias na minha freguesia natal, freguesia de Rossas, no concelho de Arouca, para o meu trabalho "ROSSAS - Inventário Natural, Patrimonial e Sociológico".
As suas Memórias, a que deu o titulo de A Nossa Casa, reportando-se à sua casa de Avanca, hoje Casa Museu Egas Moniz, foram uma das minhas primeiras incursões e são, ainda hoje, de par com Os Maias de Eça de Queirós, e Um Escritor Confessa-se! de Aquilino Ribeiro, um dos meus livros preferidos.
Egas Moniz foi proprietário da Casa do Outeiro, freguesia de Rossas, que, em 1907, vendeu a Domingos de Pinho Brandão, pai de Dom Domingos de Pinho Brandão, onde, durante a sua juventude passou férias junto de seu tio Augusto, e que recorda em várias passagens das suas Memórias:

«O horizonte em Rossas é limitado pelas serranias que, de todos os lados da rosa-dos-ventos, se levantam, com aspectos diferençados. Ali o sol nasce tarde por ter de galgar os montes levantinos e cedo se oculta por detrás das elevações do poente. As casas raras vezes se aglomeram, dispersam-se pelos campos na tranquilidade da vegetação verdejante que as abundantes águas das montanhas mantêm por todo o Verão. Só no adiantado do Outono, os milhos de altas e finas, de boa palha para o gado e de espigas de reduzido volume, conseguem amarelecer.
Às tardes ia meu tio até à única loja com mercearia, panos e utilidades, que havia na aldeia. Pequeno estabelecimento que ainda existe, e ficava num pequeno largo no sítio chamado da Barroca, onde passa a estrada que segue para a vila e outra que vai para o Porto, com um cruzeiro em granito ao lado. Ali se chegava de casa de meu tio por uma pequena vereda de grandes lajedos entre os quais corria muitas vezes água abundante»

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