domingo, 19 de março de 2006

Crescónio, Leonardo e Domingos

Contrariamente ao que se poderá pensar, Dom Domingos de Pinho Brandão não foi o único bispo que Arouca deu à Igreja.
É um facto que foi o mais recente e até o mais notado dos naturais de Arouca que serviram a Igreja naquela superior qualidade. Contudo, não foi o único e, pese embora com a dimensão que a cada um é devida, por isso procurarei dar a conhecer, pelos menos em traços gerais, três dos bispos naturais de Arouca.
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Pese embora a falta de elementos mais concretos, Maria Helena da Cruz Coelho desenvolveu algumas linhas sobre Dom Crescónio, sobre a forte possibilidade de se tratar de uma personalidade natural de Arouca, seguindo, de resto, a possibilidade já antes aventada por diversos autores.
Crescónio, viveu na primeira centúria do segundo milénio e seria natural da freguesia de Moldes, sendo seu pai Mogueime Crescones, e sua mãe Lovesenda Eirigues.
Terá professado no cenóbio arouquense, ao qual veio mesmo a legar todo o seu património. Alguns autores supõem mesmo que este monge só terá abandonado a comunidade de S. Pedro ao ascender ao episcopado.
Eleito em 1092 para o bispado de Coimbra, Dom Crescónio, viria a desempenhar essas funções até 1098, chegando a ser o único prelado do condado, por destituição de Dom Pedro, bispo de Braga.
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De elementos mais concretos dispomos já para falar de Leonardo de Sousa Brandão.
Nascido na Casa da Tulha, lugar do Sobral, da freguesia de Várzea, em 12 de Outubro de 1767, Leonardo era filho de Manuel de Almeida Brandão, Capitão da Soberana Ordem de Malta, e de D. Angélica Margarida de Almeida e Sousa.
Entrou para a Congregação do Oratório e, mais tarde, chamado para confessor de D. Carlota Joaquina e de sua filha D. Maria da Assunção. Em 1824 foi eleito bispo do ultramar, dignidade que não aceitou, mas em 17 de Dezembro de 1832 foi confirmado bispo de Pinhel e sagrado a 10 de Fevereiro seguinte. Foi o último bispo da extinta diocese de Pinhel.
Acompanhou politicamente D. Miguel, pelo que se tornou um perseguido dos liberais, chegando a andar a monte.
Segundo o assento de óbito, terá falecido em 19 de Abril de 1838, em casa de seu irmão Dâmaso. No entanto, há tradição de assim não ter sucedido, tendo o seu funeral sido realizado de forma bastante conturbada, de noite e às escondidas. Contudo, viria a repousar na Igreja Paroquial da sua freguesia natal, sendo posteriormente trasladado para o cemitério adjacente.
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De mais fresca memória é o percurso de Dom Domingos de Pinho Brandão.
Filho de Domingos de Pinho Brandão, e de Luciana Joaquina Martins de Pinho Brandão, Domingos nasceu na freguesia de Rossas, no dia 9 de Janeiro de 1920.
Frequentou os Seminários do Porto e a Universidade Gregoriana, onde se formou em teologia. Foi ordenado sacerdote, em Roma, na Basílica de S. João de Latrão, em 24 de Abril de 1943. Pároco da freguesia de Rossas durante alguns meses, foi, depois, nomeado prefeito e professor do Seminário Maior do Porto, de que foi, mais tarde, Vice-Reitor e Reitor. Foi também professor dos Colégios Araújo Lima e Brotero, do Seminário de Vilar, do Liceu Alexandre Herculano, do Instituto de Serviço Social, do Centro de Cultura Católica Superior (Porto) e da Faculdade de Letras do Porto (cadeiras de Arqueologia, Epigrafia e Numismática).
Na cúria diocesana do Porto ocupou os lugares de Promotor de Justiça e Defensor do Vínculo. Foi ainda Juiz e Examinador pró-sinodal e fez parte da Comissão diocesana de Arte Sacra e Liturgia.
Fundou e organizou o Museu de Arqueologia e Arte do Seminário Maior do Porto, estando, na ocasião de nomeação episcopal, a organizar um Museu de Arqueologia na Faculdade de Letras onde era Professor.
Quando Bispo Auxiliar de Leiria iniciou a organização de um museu diocesano de Arte Sacra.
Foi Director do Museu Regional de Arte Sacra de Arouca e fez diversas viagens de estudo ao estrangeiro, um das quais como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.
Orientou e tomou parte em escavações arqueológicas portuguesas e no estrangeiro, e em numerosos Congresso e Colóquios nacionais e estrangeiros.
Foi codirector da revista de Arqueologia LVCERNA e fez parte do Corpo redactorial da revista de arte MVSEV.
Publicou numerosos estudos (obras, separatas e artigos) especialmente sobre arte, arqueologia, epigrafia e história.
Foi nomeado Bispo de Filaca e Auxiliar de Leiria em Dezembro de 1966, e ordenando Bispo em 29 de Janeiro de 1967. Mais tarde, viria a ser Bispo Auxiliar do Porto.
Falece a 22 de Agosto de 1988, sendo sepultado no cemitério paroquial da sua freguesia natal.
Para além da vasta obra, em diversos domínios, imortaliza-o, com o seu nome, a Alameda Central da vila de Arouca e uma Rua na cidade do Porto.
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Bibliografia
CRUZ COELHO, Maria Helena da, “O Mosteiro de Arouca – Do século X ao século XIII”, Arouca 1988.
PEREIRA, Virgílio, “Cancioneiro de Arouca”, Edição FAC-SIMILADA, ADPA, Arouca 1990.
Revista LVCERNA, “Homenagem a D. Domingos de Pinho Brandão”, Centro de Estudos Humanísticos, Porto 1984.

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