sábado, 14 de outubro de 2006

Sobre as datas esculpidas no verso do brasão de Rossas

No final do mandato anterior, a então Junta de Freguesia de Rossas e, nomeadamente, o seu presidente Luís Fernandes, tiveram por bem adquirir um brasão com a recém criada heráldica da freguesia, executado por um rossense, com um admirável e rigoroso jeito para trabalhar o granito. O referido brasão foi então colocado no corte da E.N.224 para o lugar das Regadas, entre outros. Trata-se de uma obra com assinalável qualidade, que engrandece o seu autor e enriquece a freguesia. De resto, tal como foi reconhecido no jornal "Defesa de Arouca" por altura da sua execução.
Recentemente, a Junta actual e, nomeadamente, o seu presidente José Paulo Oliveira, tiveram por bem mandar executar, no mesmo material, uma cruz de Malta para colocar no verso do referido brasão e com o intento de assinalar o inicio e fim da pertença de Rossas àquela Ordem. Até aqui, nada a obstar. Muito pelo contrário!
Sucede que, as datas esculpidas no referido trabalho (1629 – 1770), não permitiam a leitura referida.
Dada a inexistência de documentação na freguesia sobre essa pertença e a, ainda, pouca investigação realizada sobre a mesma, o autor e a própria Junta terão interpretado mal o trabalho do ilustre D. Domingos de Pinho Brandão, “Rossas de Arouca – Os Limites da Freguesia”, dado à estampa em 1963, onde as referidas datas aparecem, mas, reportando-se à primeira e, eventualmente, à última Demarcações feitas na então Comenda de Rossas. Procedimento que, em termos muito simples, consistia na definição e demarcação com marcos de pedra, com a cruz de Malta e data esculpidas, dos limites da Comenda, pelas autoridades desta, conjuntamente com as autoridades das freguesias vizinhas. Tirando um ou outro caso provocado pelo desleixo e irresponsabilidade das diversas Juntas, de há uns anos a esta parte, correspondem aos actuais limites da freguesia de Rossas.
Desde há algum tempo, por gosto e sem qualquer pretensão que não seja a de reunir a história da freguesia nos seus mais variados aspectos, tenho dedicado algum tempo vago a reunir dados e investigar a história da freguesia. Pelo que, quando me deparei com a obra em causa, e, deduzindo de imediato o objectivo pretendido, entrei em contacto com o presidente José Paulo Oliveira, para confirmar a minha dedução e o objectivo da Junta de Freguesia. Confirmava-se! Era objectivo da Junta colocar no verso do referido brasão da freguesia, uma cruz de Malta, assinalando o espaço temporal em que Rossas foi Comenda daquela Ordem Religiosa e Militar.
Com o conhecimento adquirido e sustentado nos poucos dados existentes, e outros, entretanto, investigados, disse ao presidente da Junta que aquelas datas esculpidas na base da referida cruz, não permitiam a leitura que se tinha por objectivo. De imediato, e num exercício de grande responsabilidade, prometeu-me ir informar-se melhor e proceder em conformidade. E assim foi! Na semana seguinte pediu ao autor da obra que picasse as datas em causa. Já lá não estão.
Como é normal e facilmente compreensível, o autor da obra, Sr. Reinaldo, mais conhecido por “Mato-Grosso”, não gostou nada de tomar conhecimento que alguém havia questionado o seu trabalho. Tanto mais que os algarismos terão sido mesmo a parte mais morosa e trabalhosa. Entendo perfeitamente. Mas nada houve ou há de pessoal. De resto, reiterando a minha opinião sobre a qualidade das referidas obras, devo frisar que não era o autor que estava em causa, mas sim quem deu, ou não, instruções para executar a obra e definiu o objectivo da mesma.
Quanto ao inicio da presença da Ordem de Malta em Rossas, existem dados a remontar a 1140. O facto mais preciso refere-se a uma recompensa de Dona Toda Viegas ao mosteiro de S. Pedro por lhe ter tirado seis casais em Cabreiros para a Ordem do Hospital, doando-lhes vários bens em Arouca e Paiva, que ainda não tivessem sido dados por carta ou escritura. (in COELHO, Maria Helena da Cruz, "O Mosteiro de Arouca. Do Século X ao Século XIII", Arouca 1988, pág. 283 e 284). Recorde-se que, apesar de Cabreiros ser curato da apresentação da abadessa do Mosteiro de Arouca, os lugares de Tebilhão e Cabreiros, pagavam o foro das suas terras à Comenda de Rossas (in "Notas Paroquiais" do Pe. Manuel Álvares, de 1758). O facto sustentado nos livros especificamente sobre a Ordem de Malta, é avançado por José Anastácio de Figueiredo, ao referir que já na primeira metade do século XIII, essa Ordem aqui possuía bens. Teresa Gonçalves fez uma doação à Ordem de um casal «en Arouca hu dize Congustjn & duas leiras derdade no dito logar». E, segundo o mesmo autor, em 1290 era Comendador de Rossas o Frei João Fernandes (in "Nova Malta...", I, pág.252). Paula Pinto Costa, in "A Hordem Militar do Hospital em Portugal...", e Martim de Albuquerque, in "Portugal e a Ordem de Malta...", corroboram esta Tese.
Quanto ao fim da presença e extinção da Comenda de Rossas, aqui com mais certeza, à semelhança das demais Ordens Religiosas existentes em Portugal, dá-se com o Decreto de Joaquim António de Aguiar, Ministro da Justiça e das Instituições Religiosas, de 28 de Maio de 1834, que extinguiu as Ordens Religiosas em Portugal.

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