domingo, 29 de outubro de 2006

Gostei de ler

As 428 páginas de Memórias do P. António Vaz Pinto.
Vale a pena uma pequena passagem: «Um verão, estávamos de férias em Arouca e fomos, como de costume, à missa das onze ao Convento da Vila. À saída da missa, um dos meus tios que por lá se encontrava, já não sei porque motivo, voltou-se para mim e disse: «António, olha que tu tens de ser santo!» Aquelas palavras fortuitas perturbaram-me bastante na altura. Fiquei a cismar, como alguém que encontra a evidência inesperada. «Ele tem razão, tenho de ser santo», pensava comigo, sem saber muito bem o que isso podia significar...
Mas a verdade é que a perspectiva de ser santo não me atraía nem me apetecia nada...
Por outro lado, devia ser, tinha de ser... Então, uma nuvem oportuna afastou de mim o excesso de sol: os santos, lembrei-me, são conhecidos pelas suas terras de origem; nasci em Lisboa, chamo-me António; felizmente já existe o Santo António de Lisboa, portanto o meu lugar na galeria dos santos já está ocupado... Assim, vi-me então livre da grande e pesada responsabilidade de ser santo. Mais tarde a ideia veio perigosamente a atacar-me de novo, como direi...»

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