segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Queima de pneus na noite de Natal

Certamente única em todo o país, a tradicional Queima dos Pneus levada a cabo pela malta jovem da freguesia de Rossas na noite de Natal, parece ter os dias contados.Embora não se saiba ao certo quantos anos soma esta tradição, o certo é que se cumpre ininterruptamente à mais de vinte anos. Primeiramente, tinha lugar na noite de Passagem D'Ano, mas, com as inúmeras alternativas que entretanto surgiram para passar essa noite, os jovens da freguesia começaram a reunir-se com idêntico entusiasmo na noite de Natal, logo depois da consoada em família e da tradicional Missa do Galo, para proceder à famosa Queima de Pneus.

Mas em que consiste tão estranha tradição?A tradição consiste em arranjar uma carrinha e ir buscar pneus a uma qualquer oficina das redondezas e, à semelhança daquilo que sucede em muitas outras localidades do país, mormente do interior, fazer uma grande fogueira no centro da freguesia, para onde a rapaziada acorre com as sobras da consoada, e por ali fica até se ouvirem os galos a cantar.
Contudo, aquele que começou por ser um salutar e confraternizador ajuntamento da rapaziada da freguesia de Rossas, tem vindo a assumir contornos menos agradáveis e a suscitar cada vez mais o desinteresse dos jovens e o repúdio dos menos jovens. Os jogos de bola na estrada começaram a dar lugar à "tarroada" tendo por alvo os mais novos ou estranhos à freguesia; as latas que se atiravam para a fogueira para estoirar deram lugar a bombas nem sempre manuseadas com cuidado; os simples telefonemas para a GNR vir ao local e proporcionar a correria pelos campos das rendondezas tem vindo a transformar-se em autêntica batalha campal, donde os pobres dos agentes saiem sempre a perder. Enfim, um sem número de tropelias e estúrdias que têm vindo a deixar uma imagem que todos os que nela participam se recusam a assumir, quando dela não se envergonham.
Por outro lado, a critica, mormente por parte dos mais ambientalistas (e que todos, inclusivé os protagonistas, reconhecem), vai no sentido de condenar a poluição causada pelo fumo da fogueira e a sujidade que a mesma provoca no local da queima, já para não falar duma série de asneiras e exageros que se vão cometendo ao longo da noite. De facto, com razão!
E tanto assim é, que já há movimentações para alterar esta tradição que se tem revelado mais negativa do que positiva. Contudo, os ventos da mudança tem origem na sensibilidade e consciência dos jovens da freguesia e não em uma qualquer atitude ou procedimento arrogante de um qualquer eleito local para por cobro à tradição, pese embora, reconheça-se, a razão que lhe assiste.
Pelo que, estou certo, o espírito salutar e confraternizador dos jovens da freguesia de Rossas continuará a ter lugar na noite de Natal e a tradição será alterada pelos próprios porque conscientes, sensíveis e responsáveis.
Não se estranhará, por isso, que para o próximo ano, no lugar dos pneus esteja uma carrada de lenha e aos mais jovens se juntem menos jovens e até mesmo os agentes da GNR para passar a noite a contar as estórias das queimas anteriores, das travessuras pelos Santos Populares e outras tantas sempre hilariantes que a malta vai somando ano após ano.

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