quarta-feira, 15 de julho de 2009

Comendador Luiz Bernardo de Almeida

Chegados a Macieira de Cambra, a meia dúzia de quilómetros do centro da cidade de Vale de Cambra, passo para a esquerda ou para a direita, esbarramos com obra de Luiz Bernardo de Almeida. Um filho da terra com pouco mais de metro e meio de altura, mas, com uma obra imensa e notável. Uma personalidade formada na escola do trabalho e da vida e que à noite foi buscando as primeiras letras e a elevação do seu espírito. Uma personalidade que desenvolveu a virtude da solidariedade e da importância da instrução, norteando assim a sua acção.
Em Macieira de Cambra e depois de regressar do Brasil, numa postura de jubilação e simultaneamente de grande inovação, entre muitas outras obras e acções, mandou construir a Escola Primária de Macieira de Cambra, que no ano de 1913, ofereceu ao Estado; dotou a Escola Primária de Vale de Cambra com carteiras escolares; subsidiou a Banda de Música de Macieira de Cambra e motivou a construção do Centro Recreativo, Musical e Literário; mandou construir em colaboração com o seu primo, António Almeida Pinho, o edifício, que hoje se encontra em ruínas, a ex-casa de Saúde Almeida Pinho, construído com a ideia de instalar um hospital. Funcionou como seminário e posteriormente como casa de saúde de apoio aos tuberculosos; forneceu, durante longos anos e gratuitamente, medicamentos aos pobres mais necessitados da freguesia, poupando-os a doenças graves que não teriam possibilidades de enfrentar por falta de recursos; durante alguns anos estabeleceu mensalidades em dinheiro para muitos pobres da freguesia, minorando a essa classe de desprotegidos da sorte situações angustiosas; fez o primeiro abastecimento de água à sede do concelho de Vale de Cambra; mandou construir um fontanário em Macieira de Cambra; procurou em tempos, com a criação de uma escola nocturna para menores e adultos, no lugar de Macieira-a-Velha, atenuar o elevado grau de analfabetismo que aí existia; forneceu por diversas vezes, gratuitamente, material didáctico e batas aos alunos da escola que mandou construir; pela admiração que lhe mereciam as belezas da sua terra, mandou tirar milhares de postais ilustrados que distribuiu gratuitamente pelos estabelecimentos para serem vendidos a um centavo, revertendo o produto a favor dos indigentes; e, para completar a sua gigantesca obra, legou por disposição testamentária a sua fortuna de milhares de contos para a Fundação “Asilo Luiz Bernardo de Almeida”, actualmente, Fundação Luiz Bernardo de Almeida, vocacionada para apoiar as “pessoas inválidas e desvalidas de ambos os sexos”, conforme consta do seu testamento. Ainda antes de 1924 fundou a “Empresa de Transportes Progresso”, que começou por fazer carreira para Estarreja e mais tarde também para as cidades do Porto e Aveiro. Motivou e subsidiou a estrada de Macieira de Cambra à Pena, em Algeriz, facilitando o acesso aos concelhos de Arouca e Castelo de Paiva. Deu 80 contos para rasgar o troço da estrada que liga Vale de Cambra a São João da Madeira. Emprestou ainda a quantia necessária e sem cobrar juros, para rasgar a ligação entre Vale de Cambra, Oliveira de Frades e S. Pedro do Sul, superando o rio Teixeira.
Será possível que um benemérito desta envergadura tenha chegado ao século XXI, onde ainda se projecta a sua obra, praticamente esquecido?
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Fonte: MOREIRA DE ALMEIDA, Adelino Augusto, LUIZ BERNARDO DE ALMEIDA, 1.ª Edição, Vale de Cambra 2007

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