Desde tenra idade, Cesário Verde, ocupa lugar de destaque na minha prateleira de leitura, na minha secretária, enfim... na minha vida literária, se assim me é permitido falar. De resto, encontro muitos reflexos na sua escrita e muita semelhança nos seus sentimentos. Mas, mais curioso é o encontro que com ele tenho sempre que acabo de escrever os meus poemazitos e, o que me vai na alma quando vou do campo para a cidade e desta para aquele.
Oriundo de uma família burguesa abastada, Cesário Verde ocupava o seu tempo pelas duas actividades familiares – a agricultura e o comércio – dedicando apenas uma parte dele às letras. Chegou a frequentar o Curso Superior de Letras não o concluindo. Em 1873 publica a sua primeira composição no Diário de Notícias, fazendo um interregno na publicação de 1880 a 1884, época em que aparece o poema “Nós”, escrito em 1881 ou 1882, revelando já uma enorme maturidade literária. É o real que interessa a Cesário Verde - “a mim o que me rodeia é o que me preocupa” escreve a Silva Pinto – carregando a sua poesia de um amor do real, do que observa à sua volta, do que lhe transmitem os sentidos, sendo esta a característica mais original dos seus textos.
“A sua poesia é a dum artista plástico, enamorado do concreto, que deambula pela cidade ou pelo campo e descreve de modo vivo, exacto, as suas experiências” (J.Prado Coelho, Dicionário de Literatura Portuguesa, p. 1140).
É tido pelos ensaístas que se têm ocupado da sua obra como o percursor de dois heterónimos de Pessoa – Álvaro de Campos, o poeta citadino, e Alberto Caeiro, o camponês – na dupla dimensão urbana e camponesa sem ser bucólica patente nas suas poesias.
O único livro publicado é O Livro de Cesário Verde organizado pelo seu amigo Silva Pinto. Ao contrário do que o organizador afirma, parece que a organização da obra não obedeceu a nenhum outro critério que não o seu, e não a um plano deixado por Cesário Verde e que o seu irmão, Jorge Verde, terá facultado a Silva Pinto.
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