sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O pluralismo sempre foi negado por aqueles que querem destruir o passado e construir utopias. Não devemos permitir que isso aconteça na Europa
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Os juízes de Estrasburgo proibiram a exposição de crucifixos nas escolas. Na Turquia proibiriam a meia-lua e em Israel a estrela de David. Há já quem peça a supressão do Natal e, segundo a mesma lógica, do Yom Kippur e do Ramadão. Tudo em nome da laicidade do Estado. O que se passa é que, no mundo, o Estado não significa apenas Estado central. Também são "Estado" as regiões, os concelhos, as comunidades autónomas, as associações religiosas e culturais em que são delegadas funções públicas de acordo com o princípio da subsidiariedade.
Numa Europa multiétnica e multirreligiosa continuam a ser importantíssimas as velhas nações e as formações que têm por base valores, normas e símbolos tradicionais. Proibi-los por irritarem, perturbarem e incomodarem alguém significa impedir que comunidades inteiras continuem a ser elas mesmas; é negar o pluralismo.
A história mostra-nos que o pluralismo sempre foi negado por aqueles que querem destruir o passado e construir utopias. Os espanhóis anularam as civilizações pré-colombinas, a Revolução Francesa até mudou o nome dos anos e dos meses. Os comunistas soviéticos impuseram o ateísmo. Nos estados islâmicos totalitários, quem mostrar uma Bíblia vai preso. A utopia leva ao totalitarismo.
Significará isto que os filósofos e os juristas dos direitos humanos têm uma mentalidade totalitária? Se quiserem realizar a utopia de impedir que qualquer indivíduo possa ser perturbado pelo comportamento real ou simbólico de outro indivíduo, sim.Para conseguirem contentar toda a gente têm de proibir tudo: usos e costumes, valores, até mesmo as línguas de outros povos. Enquanto os grandes impérios persa, romano e britânico deixavam viver os cultos, as tradições e as línguas, os nossos visionários são impiedosos. E não apenas em relação às dimensões das ervilhas e das laranjas, mas também aos símbolos religiosos e até à linguagem. Em determinados países não se pode dizer "sexo"; tem de se dizer "género", para não ofender ninguém.
Após os totalitarismos jacobino, marxista, nazi e muçulmano, pode vir a nascer um totalitarismo eurocrático. Acena com promessas utópicas, destrói as instituições do passado e impõe o seu poder. Ensinados pela história, tentamos impedir que isso aconteça, estamos atentos e somos desconfiados. É certo que somos europeus, mas, por favor, conservemos as nossas tradições, as nossas línguas, e até mesmo as nossas fraquezas e os nossos preconceitos. E, se tentarem impor-nos alguma coisa à força, devemos dizer que não.
Francesco Alberoni, Jornal I

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