sábado, 16 de fevereiro de 2008

Pinho Brandão por Aquilino Ribeiro

H�� uns meses, a prop��sito do trabalho sobre o meu torr��o natal, corri e desesperei para encontrar as Mem��rias de Aquilino Ribeiro, onde sabia haver refer��ncias a um Pinho Brand��o, que com ele havia estudado no Semin��rio de Beja. Como tardava em vislumbrar tal obra, fi-la incluir no rol de obras a procurar na Biblioteca Municipal do Porto.
Mesmo l��, estava a ver que n��o conseguia��� Arquiva-se em Autores e n��o em Ribeiro, Aquilino ou Mem��rias. Enfim, l�� dei com a ficha e solicitei as t��o almejadas Mem��rias. Por��m, ainda antes, tive de descortinar o t��tulo da obra que, por Mem��rias de Aquilino Ribeiro, insistiam em n��o se mostrar conhecidas. ���Um Escritor Confessa-se���, �� o t��tulo das Mem��rias de Aquilino Ribeiro, e foram editadas em 1974.
Muito apressadamente, porque se aproximava a hora de fecho, folheei as primeiras p��ginas na esperan��a de me saltar �� vista o nome Pinho Brand��o. N��o foi dif��cil. Chegado ao terceiro cap��tulo e volvidos sete par��grafos, l�� estava!
��N��o raro, t��nhamos h��spedes: o Caulino, o Santos, o Parvalheira, o Campos Vaz, o Pinho Brand��o. Este, de seu nome completo Joaquim de Pinho Brand��o, era um refugiado do Semin��rio dos Carvalhos. Se me fosse requerido pintar um fauno dentro da figura����o cl��ssica que vem desde os Gregos at�� os ilustradores da Jugend, pediria a cara a este te��logo. Venta esparramada com o seu qu�� de alporca, curta de ��ngulo e larga de base, l��bios grossos desbordantes, bochechas infladas, nada mais que estas fei����es exalavam um intenso fulgor de lasc��via, destes que clamam a compet��ncia quanto a cumprir o encargo imposto a Abra��o. Ajuntem-se-lhe duas orelhas descentradas, a que s�� faltava para abanadores o serem m��veis, olhos pequenos e porcinos, voz grossa, gorgolojante como de ��gua a passar no bueiro. Vasto de ombros, marcha de plant��grado, vestia um casaco talar de padre sertanejo, ru��o de bater, com as lapelas e mangas ensebadas por salpicos de gordura e de tudo o mais que pode cair na samarra dum racional inadvertido.
N��o era necess��rio olhos de lince: estava ali o cavador escapo �� terra, com a vida do est��bulo estampada no rosto, vacas cachondas, ��guas sa��das a nitrir pelos poldros, e por detr��s dos palheiros: passante os dezasseis, raparigas, bem sabeis!
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Bem! ���Com amigos destes������ Por��m, se lhe n��o fez abonar a fisionomia, compensa-o nas considera����es sobre as capacidades.
��Em mat��ria de meter no caco, era um barra. Foi assim que se tornou um ��s nos latins, sendo certo que o conhecimento desta l��ngua depende do poder de retentiva, como sugere o ditado: conjuga e declina, saber��s a l��ngua latina.
N��s, sempre que trope����vamos na tradu����o dos textos ou em qualquer anfiguri da linguagem, ��amos ter com o Brand��o. Ele, de duas palhetadas, tirava-nos de dificuldade. Mas n��o era apenas no latim-lat��o que era mestre. Em qualquer autor cl��ssico do L��cio ou obra did��ctica em latim, navegava com a prontid��o duma piroga na ��gua morta dum rio.
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Das capacidades, passa ��s potencialidades���.
��Sucedia assim a Brand��o, com aquela tromba obscena, ser adorado como o belo Ant��noo. E a que embelecos e tagat��s de amor se n��o entregavam! �� falta das prendas que se compram nos bazares, pois que estavam fora das suas possibilidades, p��bis cincinnulos et genitalis semina in lagunculis per signum amoris permutabant. Quando em dias de festa, Sagrado Cora����o de Jesus, Sagrado Cora����o de Maria, a vigil��ncia afrouxava, as camaratas convertiam-se em caramanch��is da ilha de Citera.��
Bem! Suscitada a curiosidade, para encontrar esta obra, cabe dizer que se encontra diminuida a dificuldade. Deu �� estampa na semana passada uma edi����o revista e aumentada destas Mem��rias (capa na imagem), da Bertrand Editora, tal como a edi����o original. Desta feita, com pref��cio de M��rio Soares.
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Ah! Quem era este Joaquim de Pinho Brand��o? Para quem n��o sabe, e atendendo ��s tintas com que Aquilino o pinta, s�� pessoalmente ou, se chegar a dar �� estampa, no tal trabalho sobre o meu torr��o natal. O que j�� diz qualquer coisa.

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