sábado, 21 de janeiro de 2012

Portão do antigo Terreiro de Santa Mafalda

Já lá vão uns anos fiz publicar no então semanário “Defesa de Arouca” um artigo “Pela reimplantação do antigo Portão do Terreiro de Santa Mafalda”. Motivou-me a curiosidade que me suscitaram umas pedras trabalhadas que havia observado dentro da Cerca e umas outras mais trabalhadas ainda, que estando espalhadas pelos Claustros me pareciam fazer conjunto com aquelas. É, por isso, mas também por todo o significado histórico e valor artístico que esta peça encerra, que me sinto alegre e orgulhoso na minha terra, ao vê-la ser reimplantada hoje no exacto local de onde foi removida em 1924. Uma peça destas jamais poderia permanecer desconjuntada e desvalorizada! A então remoção, é bom dizê-lo, não foi pensada inicialmente e a peça era para manter, de resto, à semelhança de um outro portal mais modesto existente mais a sul, também agora recuperado e trasladado. A remoção ficou então a dever-se essencialmente ao peso e aparato da peça que, depois de removido o muro que a ladeava, para facilitar o acesso automóvel ao Terreiro, oferecia algum perigo. Estou convencido que se este se tivesse aguentado até duas décadas depois, jamais teria sido removido. Mas, enfim, outras lógicas, outros objectivos e outras prioridades assim o ditaram! Factos, no entanto, que devemos sempre saber olhar com os olhos de então!
Hoje, a reimplantação deste antigo Portão e a vedação do Largo de Santa Mafalda – que agora pode muito bem voltar a denominar-se Terreiro de Santa Mafalda – merece, pois, da minha parte, o maior elogio. Se há uma ou outra empreitada inseridas na denominada Regeneração Urbana do Centro Histórico de Arouca que não merecem o meu apoio, não é o caso desta.
Lamento tão só que tenha havido necessidade de remover o Memorial dos Centenários da Fundação e Restauração da Nacionalidade que estava implantado no centro do Largo. É certo que uma devolução do Largo às características e aparência do Terreiro a isso obriga, mas, não devemos esquecer e até é bom lembrar que os Memoriais executados e/ou placas descerradas em 1940, aquando da Grande Exposição do Império Português, significam muito mais do que as efemérides que evocam. Esses memoriais e essas placas ou alusões que vemos um pouco por tudo quanto é património edificado neste país, nomeadamente à entrada de Castelos, e, no caso de Arouca, podemos encontrar ainda, por exemplo, na fachada do antigo edifício-sede da Junta de Freguesia de Alvarenga, ou no cruzeiro da Barroca e na Torre Sineira da Capela da Senhora do Campo, em Rossas, significam também grandes empreitadas de recuperação e restauro do nosso património artístico e arquitectónico. Assim, e porque também o Mosteiro de Arouca beneficiou de grandes obras de recuperação e restauro naquele exacto contexto, não se deve arredar agora e descontextualizar uma peça que também tem essa leitura e significado. Oxalá se tenha abandonado a ideia descabida de reimplantar esse Memorial na Alameda D. Domingos de Pinho Brandão - que, apesar de tudo e para além do mais, é característicamente mais recente que a peça em causa - e se lhe destine uma localização mais condigna e relativamente próxima do Mosteiro. A zona verde a implantar entre o Muro da Cerca e o actual Campo de Jogos S. João Bosco, parece-me uma boa hipótese.



Post scriptum - Por mera ilusão derivada da resolução fotográfica ao observar-se esta foto fica-se com a ideia que o Portão terá estado algum dia em local diverso daquele em que hoje se está a reimplantar, concretamente mais para baixo e mais próximo do Pombal, que se consegue ver na imagem. Mas não. É uma ilusão criada pelas fotos daquela época, que de resto se manifesta de forma idêntica noutras fotos até mesmo de Arouca. Desde que foi implantado e até 1924, data em que foi removido, o Portão em causa teve sempre aquela mesma localização.

2 comentários:

jcerca disse...

De acordo com informação que ouvi recentemente de um dos arqueólogos que estão a acompanhar as obras de regeneração, o Portal terá estado noutro local mais para baixo de onde está a ser agora reimplantado. Efetivamente, se olharmos para o lado esquerdo do portal, não é a parede do Mosteiro que se vê, como seria natural, mas sim um muro. Coisa que não teria sido possível caso a foto tivesse sido tirada no sítio original onde agora acabou de ser montado. A visão que temos do pombal, nessa foto, não me parece mesmo que seja uma ilusão ótica, mas sim a realidade, pois, no momento da foto o portão deveria estar mais ou menos a meio do parque, possivelmente à frente daquilo que hoje é a Cooperativa.

António Brandão de Pinho disse...

Contráriamente ao que defendo acima, baseado na documentação até agora conhecida, bem como na ilusão provocada pelas fotos antigas, que se constata, por exemplo, nas fotos existentes nos corredores da ADPA - Associação da Defesa do Património Arouquense, bem como no curto lapso temporal que decorreu entre a remoção do local original, no topo do Terreiro, até às intenções documentadas do Instituto do Património Nacional, com vista à sua reimplantação, Alberto Gonçalves, elemento da direcção da ADPA, fez publicar no passado dia 15/01/2012, no Jornal de Arouca, um artigo, baseado em fontes documentais da Câmara, que sustentam a tese que defende que o Portal que agora se está a reimplantar no topo do Terreio e daí foi removido em 1924, terá sido levantado um pouco mais abaixo, no local que refere, sendo certo que não pode aí ter estado mais do que 15 anos. Estranho facto este, mas, que me obriga a dar a mão à palmatória...