segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Arouca na primeira metade do século passado

O último grande incêndio no Convento
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«Exintas as ordens religiosas, por Decreto de 28 de Maio de 1834, os bens conventuais foram incorporados nos próprios da Fazenda Nacional. Manteve-se às freiras a continuação da residência até ao falecimento da última professa: não lhes cumprindo porém o artigo 4 do Decreto que lhes garantia o pagamento duma pensão anual. Vieram a passar, como escreveu Carlos de Passos relativamente a este mosteiro, "horas de infortúnio e penúria, largas e sem remédio", pelo que se viram obrigadas a vender certas espécies de valor, como os dois cálices de D. Melícia de Melo.

Faleceu a última religiosa, D. Maria José Gouveia Tovar de Meneses, a 3 de Julho de 1886.

A Fazenda Nacional procedeu ao arrolamento da existência do mosteiro. Tentando-se levar o recheio, conforme o estabelecido, o povo local opôs-se violentamente e obstou em grande parte à saída, conseguindo-se a conservação das peças que constituem o recheio do valioso museu.

A igreja, claustro e certas partes anexas acabaram por serem entregues à Irmandade de Santa Mafalda, que zelosamente a tem mantido com dignidade; a parte propriamente monástica ficou à Câmara Municipal.

Foi esta arrendando celas para residência de gente de modestos recursos, acabando por aí se concentrarem numerosas famílias. Cozinhavam estas, em grande parte, nos próprios quartos; na noite de 19 para 20 de Outubro de 1935, deflagrou incêndio numa cela da ala norte, que se estendeu. Diversas corporações de bombeiros que acorreram conseguiram salvar as alas de nascente e de poente.

Deverá destacar-se o nome da empregada Maria Rosa do Sacramento que, para salvar o tesouro do mosteiro, não se lembrou do que era seu, perdendo-o nas chamas. O interesse manifestado pelo Presidente do Conselho de Ministros, numa visita ao edifício incendiado, levou os serviços dos Monumentos Nacionais a uma profunda e criteriosa restauração, na qual se lhe reconstituiu o carácter antigo, completando ainda as alas do claustro que haviam ficado inacabadas; obras de consolidação e valorização que têm continuado, com zelo e competência.»

in "Inventário Artístico de Portugal...", Lisboa 1991, pág.35.

O incêndio anterior deflagrou em Fevereiro de 1725, e devastou o sector velho do mosteiro, salvando-se a igreja, inaugurada apenas sete anos antes, depois do restauro que a levantou da ruína, e o lanço novo do dormitório.

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