sábado, 10 de fevereiro de 2024

O médico cirurgião oftalmologista natural da casa da Vinha de Rossas

Com a recente descoberta e visita ao jazigo onde se encontra sepultado, dei por concluída a dificilíssima pesquisa sobre a história de vida - e que história! - de António Ferreira dos Santos Vasconcelos, o médico cirurgião oftalmologista natural da casa da Vinha de Rossas.

Nesse jazigo, na Rua 20 do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, encontram-se inumados, desde 1913, António Ferreira dos Santos Vasconcelos e António Fonseca de Vasconcelos, pai e filho, ambos médicos, os dois falecidos em 1908. E estão ali apenas desde 1913, porque à data da sua morte não havia ainda aquele jazigo da «F.ª Fonseca Vasconcellos» nem se previa sequer tão prematuro infortúnio. Acresce que, apesar de terem falecido no mesmo ano, com diferença de apenas seis meses, não foram sequer sepultados no mesmo cemitério. O filho, que faleceu primeiro, foi sepultado no cemitério do Alto de São João, também em Lisboa; o pai, que faleceu depois, foi sepultado no cemitério dos Prazeres, mas num outro primeiro jazigo. A reunião dos dois deu-se apenas após a transladação dos restos mortais de ambos para o jazigo atual.

Capela Jazigo da «F.ª FONSECA VASCONCELLOS», Cemitério dos Prazeres, Lisboa

Como referido, ambos faleceram em 1908: o filho em 20 de janeiro e o pai em 14 de julho. Coincidiram com o terminus do curso de medicina do filho os primeiros sintomas de Tuberculose Pulmonar do pai. Pelo Natal de 1905 já aquele então estimado rossense se viu obrigado a repouso e pelo Verão de 1907 tentou mesmo a cirurgia, tendo-se deslocado à Alemanha para esse efeito. E foi precisamente aí, em Berlim, onde se encontrava em tratamento, que, volvidos apenas seis meses sobre o falecimento de seu filho, por acometimento fulminante da mesma doença, morreu António Ferreira dos Santos Vasconcelos.

Excerto do Assento de Óbito de António Fonseca de Vasconcelos

Excerto do Assento de Óbito de António Ferreira dos Santos Vasconcelos

Recortes do jornal "Gazeta de Arouca", de 1905, 1907 e 1908

A circunstância de ambos terem sido sepultados em Lisboa, deve-se ao facto de aí residirem à data da respetiva morte, em virtude do casamento de António Ferreira dos Santos Vasconcelos, que aí se deu, na paróquia de São José, em 1881, com D. Josefina Henriqueta da Fonseca, natural de Porto Alegre, Brasil, filha de pai português e mãe brasileira. À data do casamento (testemunhado, entre outros, pelo parente e conterrâneo Doutor Inácio Teixeira Brandão de Vasconcelos, então Conservador dos Registos da Comarca de Arouca), António Ferreira dos Santos Vasconcelos, já tinha deixado a freguesia de Rossas para estudar e entretanto residia em São Cipriano, freguesia de Paços de Brandão, concelho da Feira. E foi aí, em Paços de Brandão, que residiram logo após o casamento, onde tiveram os seus três filhos, sendo António da Fonseca Vasconcelos, nascido em 1882, o primogénito.

Assento de Casamento de António Ferreira dos Santos Vasconcelos

António Ferreira dos Santos Vasconcelos formou-se em medicina e especializou-se em oftalmologia, tendo-se debruçado particularmente sobre a oftalmia simpática, que, resumidamente, consiste na inflamação que ocorre numa vista após lesão ou cirurgia na outra. De resto, foi com breves considerações sobre essa problemática que, em 1878, defendeu a sua especialidade perante todo o corpo docente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. E foi também aqui, como já referido, que o seu filho se formou também em 1905.

É muito provável que o facto de, na sua juventude, ter visto o seu parente e vizinho capitão Feliciano António Ferreira de Vasconcelos, a sofrer, sem vista e acamado, tenha influenciado o então, muito provavelmente, designado "Tonito da Vinha", a seguir o estudo das delicadas implicações dos olhos. Se é que aquele não o ajudou mesmo nesse objetivo. O capitão da Comenda veio a falecer em 1873, precisamente no ano em que o jovem António iniciou os seus estudos na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. E este andava já no terceiro ano, quando, em 1876, apadrinhou o neto daquele, António Ferreira de Vasconcelos. Em 1892, quando aceitou apadrinhar a sobrinha Josefina, filha de Maria Teixeira de Vasconcelos e Manuel Fernandes, da Portelada, Lourosa de Matos, já não veio a Urrô, onde se realizou o batizado da neófita, tendo passado procuração para o efeito a seus pais. Já vivia definitivamente em Lisboa, no Segundo Andar do n.º 50 da Avenida António Augusto de Aguiar.

Efetivamente, depois de se formar, António Ferreira dos Santos Vasconcelos, só muito esporadicamente voltou ao seu torrão natal, onde havia nascido em 1853. E depois de se mudar em definitivo para Lisboa é mesmo provável que só tenha regressado a Rossas para o funeral de seu pai em 05 de Abril de 1906, quando se encontrava já acometido das infeções pulmonares. Havia já alguns anos que os seus pais, António Ferreira Vaz e Maria Carolina Teixeira de Vasconcelos, tinham deixado a casa da Vinha e moravam no lugar de Zendo, onde lhes sobreviveu a sua mãe até 1914.

Assento de Batismo de António Ferreira dos Santos Vasconcelos

Sua mãe, Maria Carolina Teixeira de Vasconcelos, nasceu na casa da Vinha, em 1834. Era filha de Maria Teixeira de Vasconcelos, da casa de Sequeiros, e João José dos Santos, da casa da Vinha, viúvo da prima paterna daquela e filho natural de Mariana Gomes dos Santos, da casa da Vinha, perfilhado pelo Reverendo Reitor Manuel José Ferreira Brandão, da casa da Cavada. António Ferreira dos Santos Vasconcelos era tio paterno de, entre outros, Maria Teixeira de Vasconcelos que casou com José Soares de Pinho Brandão, da casa de Telarda de Baixo, sendo que este último era já primo direto materno daquele, com ascendência comum na casa de Sequeiros.

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