terça-feira, 10 de abril de 2012

O extraordinário achado desta Páscoa...



No passado dia 6 de Abril de 2012, reparei que se encontravam duas pedras soltas junto ao canteiro exterior e portão do cemitério paroquial de Rossas; sendo que, numa dessas pedras, vislumbrei de imediato a inscrição de dois algarismos em baixo relevo. Pelo que logo verifiquei não se tratar de uma simples pedra. Mais, trata-se mesmo de uma inscrição que me é “familiar” e, por isso, a maior atenção que me mereceu.
No âmbito de um trabalho que tenho em curso – ROSSAS – Inventário Natural, Patrimonial e Sociológico –, entre outros temas abordados no capítulo epigrafado de “RELIGIÃO”, como não podia deixar de ser, dediquei um à história da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Rossas. O templo actual, como é sabido, é o resultado de uma reforma geral, que terá mesmo implicado uma mudança de local, levada a cabo na primeira metade do século XVII, e uma mais ligeira, a nível de forros, soalhos e talhas, realizada em meados do século XVIII. Primitivamente, existiu uma igreja mais humilde, cuja edificação e administração remontaria ao tempo dos fundadores da mesma, aquando do povoamento do pequeno vale de Rossas, anteriormente ao estabelecimento da Comenda da Ordem dos Hospitalários, hoje mais conhecida como Ordem de Malta.
Do pouco que se escreveu sobre a história da Igreja de Rossas, chegou aos nossos dias a tese de que o templo primitivo, muito possivelmente, remontava ao ano de 1073, que corresponde à era de 1111 , cuja inscrição estaria gravada e repartida nas duas pilastras que enquadravam a porta principal da antiga igreja, metade no lado esquerdo - I I - e metade no lado direito - I I -. Desta possibilidade, e por saber que foram aproveitados elementos da igreja primitiva na edificação da igreja actual, nomeadamente no portal principal, observei a existência de vestígios daquela que terá sido a inscrição primitiva. No entanto, trata-se apenas de vestígios, uma vez que a pedra em que terá figurado parte da inscrição na igreja primitiva, terá sido propositadamente partida. Contudo, também propositadamente, não totalmente limpa daquela primitiva inscrição. Não faria sentido colocar na nova igreja elementos, isolados e/ou de conjunto, com uma data que não corresponderia à nova edificação nem permitiria uma leitura adequada. Todavia, tal como se fez questão de colocar os primitivos padroeiros no cunhal, também se fez questão de deixar vestígios da data primitiva no novo portal, quiçá para propositada leitura de estudiosos. E lá estão, de facto! Para este efeito, no entanto, não era necessário utilizar as duas primitivas pedras. Pelo que se terá optado por partir uma das duas, que se utilizou na composição do novo portal, e, não integrar a outra na nova edificação, a menos que, podemos suspeitar, também dessa se limpasse, total ou parcialmente, a inscrição primitiva e se impossibilitasse a sua leitura.
Esta segunda pedra, que terá integrado uma das pilastras do portal da primitiva igreja, ficou então de parte e, possivelmente, terá sido destinada a outro fim, que terá obrigado a que lhe picassem cerca de 6 cm e feito uma espécie de encaixe. Seria interessante saber a que fim esteve destinada entretanto e onde?
No entanto, deve reservar-se melhor atenção à observação e interpretação de entendidos e especialistas na matéria, o que não é o meu caso, já que sou um mero estudioso de horas vagas. Enquanto isso, e à falta de melhor observação e interpretação, pelas fotos e medidas que junto abaixo, parece-me muito provável que esta pedra, que agora se revelou inesperadamente, seja o par da inscrição - I I I I - que, alegadamente, existia nas pilastras que enquadravam o pórtico principal da primitiva igreja de Rossas. Pelo que, a ser assim, estamos em face de um elemento de enorme valor histórico, de grande importância para a história da igreja, da paróquia e da freguesia de Rossas.
Neste sentido, entendo justificar-se que essa pedra seja recolhida no interior da própria igreja, eventualmente incrustada em local que se entenda apropriado a possibilitar a sua leitura, ou no Museu Paroquial, em qualquer dos casos, acompanhada de texto explicativo.
Explicação e sugestão que entendi dever participar pessoalmente a elementos da Fábrica da Igreja e ao Reverendo Abade João Pedro Bizarro.
Rossas, 08 de Abril de 2012.
A. J. Brandão de Pinho

2 comentários:

sara disse...

E isto é exactamente o quê? : )

António Brandão de Pinho disse...

Amiga Sara, acrescento agora, passado o destaque do achado e para memória futura, a comunicação enviada à Fábrica da Igreja e ao Reverendo Abade João Pedro. Bjs