domingo, 8 de abril de 2018

Também os houve de Arouca...

Assinalam-se amanhã os 100 anos de uma das mais mal sucedidas intervenções dos portugueses numa das muitas batalhas da Primeira Grande Guerra Mundial: a batalha travada no vale da ribeira de La Lys, na Flandres Francesa.
Manifestamente bafejados pela sorte e até por "graças divinas" em tantas outras batalhas e conflitos, tudo correu mal aos portugueses em La Lys. Os oficiais com mais experiência tinham sido chamados a Lisboa pelo novo presidente da República. A falta de barcos não possibilitou a rendição das tropas portuguesas pelas britânicas, provocando desânimo, deserções e suicídios. O contingente português era muito inferior e estava muito pior apetrechado que o exército alemão. Quando finalmente recebem ordens para se deslocarem para posições mais recuadas, dando lugar aos britânicos, são surpreendidos pelos alemães que, num ápice, destroçam os portugueses.
O que tudo se traduziu numa página muito negra da nossa história, em que se sacrificaram muitas vidas, a maior parte das quais desaparecida de notícia e memória em plenas trincheiras ou em valas comuns. Lá diz o povo que dos fracos não reza a história, mas, neste caso, não houve fracos. Houve, isso sim, portugueses muito valentes - apesar de contrariados -, mas sem orientação e coordenação. E, por fim, cansados, desanimados e abandonados à sua sorte. De todos deve rezar, pois, a história! Essa história que diz que, apesar de tudo, ali se distinguiram vários homens, anónimos na sua maior parte, trazendo aos nossos dias a noticia e memoria de apenas um ou dois. Mas houve mais. Também os houve de Arouca... muitos! Nem todos com a mesma sorte, porém!
Para que se tenha a percepção desse acontecimento e a intervenção que nele tiveram muitos arouquenses, vale a pena ler a informação de meia-dúzia das dezenas de Boletins Individuais de Militares do CEP (1914-1918), à guarda do Arquivo Histórico Militar.

Feliciano de Pinho Vasconcelos (1893-1967), natural do lugar da Fontela, de Rossas, foi um desses notáveis soldados portugueses. Era neto de Ana de Pinho e afilhado de Feliciano Ferreira de Vasconcelos, respectivamente, criada e neto do último capitão de Rossas.
Foi promovido a 1.º Cabo Miliciano em Janeiro de 1918 e, nessa qualidade, durante a sua permanência na trincheira deu provas de disciplina e coragem, tendo mantido serenidade perante o perigo e sido sempre dedicado pelo serviço contribuindo pelo seu porte e correcção para o bom nome do batalhão a que pertenceu, pelo que foi louvado em 24 de Maio de 1919.
Foi um dos poucos que conseguiu regressar e refazer a sua vida. Faleceu em 29 de Setembro de 1967, tendo sido sepultado no cemitério paroquial de Rossas.
Outro, foi António Seabra Brandão (1894-1982), Soldado, filho de Margarida Tavares Seabra e José Brandão, do lugar da Cavada, de Rossas, o qual também conseguiu regressar e refazer a sua vida. Faleceu em 20 de Março de 1982, tendo sido sepultado no cemitério paroquial de Rossas.
António Gomes, Soldado, filho de António Gomes e Teresa Maria Gomes, da Póvoa Reguenga, de Urrô. Embarcou em 27 de Maio de 1917 e desembarcou em Brest três dias depois. Suicidou-se em Laventie em 7 de Dezembro, sendo sepultado no cemitério daquela localidade.
António Soares, Soldado, filho de António Soares e Maria Clara, de Canelas. Desapareceu e tendo sido capturado foi feito prisioneiro. Embarcou da Holanda para Portugal em 12 de Janeiro de 1919.
Artur Gomes de Carvalho, Soldado, filho de António Gomes de Carvalho e Cândida Rosa de Jesus, da freguesia de Escariz. Desapareceu e tendo sido capturado foi feito prisioneiro. Embarcou para Portugal em 31 de Janeiro de 1919.
Avelino Francisco Tomé, Soldado, filho de Manuel Francisco Tomé e Maria Gomes de Jesus, de São Miguel do Mato. Embarcou em Lisboa no dia 15 de Maio de 1917 e foi ferido em combate no dia 29 de Março de 1918. Foi punido em 9 de Outubro de 1918 com 8 dias de prisão disciplinar por não ter cumprido uma Ordem de um seu superior. Desembarcou em Lisboa no dia 9 de Julho de 1919.
Joaquim Francisco dos Santos, soldado, filho de Joaquim Francisco dos Santos e Maria Joaquina Ermelinda, de Chave. Embarcou em Lisboa em 14 de Março de 1917 e faleceu em França no dia 25 de Junho de 1918, ficando sepultado no talhão português do cemitério de Aire S/La Lys.
Joaquim Teixeira Gomes, 2.º Sargento, filho natural de Júlia Joaquina, de Urrô. Embarcou em Lisboa em 22 de Fevereiro de 1917. Tendo sido acometido de tuberculose pulmonar, evacuado e sucessivamente transferido de hospital para hospital, acabou por falecer em 15 de Janeiro de 1918, sendo sepultado no cemitério de Wimereux, em França.
Manuel Gomes de Sousa Fontes, 1.º Cabo Músico, filho de António Gomes de Sousa Fontes e Luciana de Sousa Fontes, de Figueiredo, Burgo. Embarcou em Lisboa no dia 23 de Fevereiro de 1917, foi promovido em 4 de Outubro de 1918 e regressou em 17 de Junho de 1919. Ainda por lá, foi louvado pela boa vontade e dedicação que sempre teve manifestado no desempenho dos seus deveres, e pela forma correcta como sempre se tem conduzido.
Manuel Rodrigues Costeiro, 2.º Cabo - Corpo de Artilharia Pesada, filho de Manuel Rodrigues Costeiro e Lucinda Gonçalves, da Espiunca. Embarcou em Lisboa no dia 24 e desembarcou em Brest no dia 30 de Agosto de 1917. Faleceu em 30 de Maio de 1918, em resultado dos ferimentos causados por um bombardeamento aéreo feito pelo inimigo, ficando sepultado no cemitério local.
José Teixeira da Rocha, Corneteiro, filho de Joaquim Teixeira da Rocha e Custódia Joaquina, da vila de Arouca. Embarcou em Lisboa no dia 23 de Fevereiro de 1917 e regressou no dia 25 de Junho de 1919. Ainda por lá, foi louvado pela boa vontade e zelo que tem demonstrado na instrução da sua especialidade...
Mas houve mais... Muitos mais! Pelo menos 150, devidamente identificados. E é justo que se coloque o nome desses homens na história, nem que seja apenas na nossa.

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