segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Moimento de Santo António vai ser trasladado

Segundo o jornal "Defesa de Arouca" da última semana, o Moimento, ou mais comumente dito Memorial de Santo António vai ser mudado do local onde se encontra actualmente e reimplantado naquele que terá sido o local da sua edificação original.
Começando pelo que devia ser o fim, devo dizer que apoio inteiramente a iniciativa. E, se é certo que nos devemos opor a que edificações antigas sejam mudadas ou adulteradas (e, principalmente, quando classificadas como monumentos nacionais), para que se proceda à abertura duma estrada ou uma qualquer outra construção, quando, como neste caso, o intento é conferir a dignidade que o monumento requer, deve merecer o nosso apoio. Claro está, desde que feita por quem nisso seja especializado e se cumpram todos os procedimentos que não levem à adulteração do monumento em causa.
Depois, acresce o facto do local onde se encontra actualmente não ser o local onde originalmente terá sido edificado. Mudança que se terá ficado a dever, justamente, à abertura da estrada nacional. No local actual, encontra-se mesmo à margem da estrada, onde hoje, manifestamente, é impossivel mantê-lo num estado digno.
Neste sentido, a intenção que o presidente da Junta actual traz já do mandato anterior merece o meu apoio. De resto, estou convencido que, com esta iniciativa, será dado mais um passo importante para a valorização do nosso património.
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Como é sabido, o também chamado "Arco da Rainha Santa" por, segundo a lenda, estar ligado ao trajecto fúnebre da padroeira Rainha Santa Mafalda para Arouca, é um arco funerário medieval, em granito, sendo um dos seis monumentos deste género existentes em todo o País. É monumento nacional desde 1910.
Sobre este esplêndido monumento, o Doutor Filipe Simões escreveu nos seus Escritos Diversos (pág.329), uma possível explicação para aquela edificação a escassas centenas de metros do Convento de Arouca e, que o Dr. Simões Júnior transcreveu nas suas notas e, que pela importância e pertinência para o tema que estamos a tratar passo a transcrever:
««Antes de entrar na vila, junto de uma igreja que julgo ser de S. Pedro (foi sempre de Santo António), conserva-se um arco de granito extremamente curioso. Chamam-lhe MOIMENTO, e anda em tradição que teria sido erguido, bem como outros dois que se encontram na estrada de Rio Tinto e que não tive ocasião de observar, para comemorar o transito do cadáver da Rainha Dona Mafalda, daquela povoação, onde falecera, para o Mosteiro de Arouca, onde jaz sepultada. O cadáver fora milagrosamente transportado por uma mula sem guia.
A tradição é contestável, porque Ruy de Pina e Fr. Bernardo de Brito, afirmam que a Rainha falecera em Arouca. Um antigo e extenso epitáfio, que o segundo achara ainda inteiro, e Fr. António Brandão em grande parte, não refere tão importante facto, como seria o transito de Rio Tinto para Arouca. Enfim tudo leva a crêr que sobre a existência dos três menumentos se arquitectaria a lenda vasada nos moldes de outra muito conhecida que se refere aos cinco Mártires de Marrocos.
Seja como for, tem este monumento pela sua forma e dimensões a maior analogia com o de Odivelas, que todos supõem levantado para o transito de um cadáver real, querendo uns que fosse, conforme a tradição, o de el-rei D. Diniz, outros o de el-rei D. João I. Todavia o estilo difere muito, sendo ogival no monumento de Odivelas e românico no de Arouca.
Tem este a forma de um arco de volta redonda, no meio do qual foi horizontalmente atravessada uma pedra abaúlada como a campa de um tumulo. Esta pedra estriba-se de cada lado em duas pequenas colunas com capiteis. As faces do arco, os capiteis e colunelos são muito ornamentados, num estilo que se atribuiria melhor ao século XII que ao imediato. O exame dos outros dois monumentos, se por acaso existem de pé, daria provavelmente indicações mais importantes, até porque o de Arouca foi remexido e restaurado. Infelizmente não me foi possível seguir a estrada de Rio Tinto»».

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